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Sunday 30 May 2010

«Sou o Dono do Mundo!»

Sentados à volta de uma mesa, uns estudantes discutiam aquelas banalidades de sempre de quem se conhece há bastante tempo, se vê todos os dias e não tem grandes novidades para contar.
A certa altura um dos amigos que, por acaso, nem era estudante, mas que fazia parte do grupo por trabalhar no centro de fotocópias daquela faculdade, atreveu-se a atirar um comentário para o ar:
– «Sabem, sou o dono do Mundo!»
Primeiro veio o choque de mãos dadas com o silêncio, seguido pelo espanto do atrevimento de um tal comentário: Que ousadia!
Resultado: Uma hora e tal a discutir sobre a possibilidade e/ou impossibilidade de alguém ser dono do Mundo e, mesmo que tal fosse possível, o Mundo não estaria, com certeza, nas mãos de alguém que passava os dias a mudar 'toner' e a tirar fotocópias...
O rapaz ouvia, em silêncio, o que os outros diziam – o que só aumentava a tensão à volta da mesa. Que arrogância! pensavam...
Finalmente, quando os argumentos se começavam a repetir, o rapaz decidiu falar novamente:
– Sabem, podem filosofar e argumentar o tempo que quiserem sobre o assunto. Podem até chamar-me maluco e arrogante...Mas o facto é que tenho um gato que se chama Mundo. Eu sou mesmo o dono do Mundo!

Esta é uma história verídica. Ouvi-a em segunda mão há uns bons anos, mas na altura não lhe dei grande importância. Lembrei-me dela agora, precisamente por ter vivido – há uma questão de minutos – a sua antítese, o que em Inglês se chama «a conversation killer». A frase? Bom, eu nem queria acreditar:
– «Quero lá saber o que tu pensas!».
– «Então, adeus!» – A única resposta possível que me ocorreu.

Foi segundos depois de ter 'recuperado' desta curtíssima conversa (pois, prefiro canalizar a minha energia para coisas mais felizes) que me lembrei da história que acabei de contar. Nunca lhe tinha dado o devido valor e estou agradecida por ter tido semelhante epifania!

A história, essa, é simplesmente deliciosa e recheada de, não uma mas várias lições de vida: Primeiro, a fortaleza de espírito do moço que ousou fazer um comentário controverso, sabendo, antemão, que estaria no centro da linha de fogo. Segundo, a sua capacidade de apimentar uma conversa para que esta passasse do disse-que-disse para um debate interessante e produtivo. Terceiro, a sua capacidade de ouvir e de se interessar pelo que os outros diziam, mesmo quando os comentários eram menos amáveis. Quarto, a sensibilidade em detectar o ponto límite da discussão, a partir da qual nada mais poderia ser aprendido. Finalmente, o seu grande sentido de humor...Enfim, um grande sábio!

(13 de Maio de 2010 às 22:58)

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