Featured post

A Journey through the Desert

( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Monday 31 May 2010

O que faz um bom escritor?

«Auto-crítica severa e noção do ridículo (pudor literário) já é um começo, e um raro começo. Depois, trabalho, trabalho, trabalho e reflexão, reflexão, reflexão e entendimento da condição humana. O resto é escrita boa para este tempo detergente.» - R.P. (Facebook)

MINHA RESPOSTA: Concordo. Embora ache que a maior parte dos escritores 'wanna-be', em geral, já são bastante 'auto-críticos'; precisamos é de orientação de quem sabe e não tem complexos em dar uma opinião isenta, crítica e construtiva, pois só assim é que poderemos dar o tal salto quântico que tanto ambicionamos. Claro que o 'pudor literário' e a humildade em aceitar as tais críticas também são importantes. Escrever é o mais fácil; o difícil reside no re-escrever, editar, cortar, desenvolver, voltar a re-escrever, etc...O tal trabalho, que menciona. Quanto à reflexão, também acho importante, mas não tão importante para que o repita três vezes. ;-) Nem todos têm a disponibilidade financeira, profissional e/ou familiar para reflectirem tanto como Marcel Proust, por exemplo. Nem todos têm a ambição de escrever uma obra que – apesar de considerada uma obra-prima – seja lida, parcialmente, apenas por algumas pessoas e, totalmente, por muito pouca gente. Além do mais, apesar do seu inegável 'gênio', duvido que Proust tivesse realmente um verdadeiro entendimento da 'condição humana'. Quanto a mim, pessoa mais arrogante e desdenhosa (mesmo dos seus próprios 'amigos') do que Proust não poderia ter havido...
Outras duas características essenciais a um bom autor/escritor é a contínua vontade em aprender algo de novo e a capacidade de transmitir conhecimentos através da sua obra. Uma das minhas escritoras favoritas é a Barbara Kingsolver, precisamente porque quando termino de ler um dos seus livros, me sinto mais 'inteligente'; sinto que aprendi algo de novo sobre um tema interessante, até aí desconhecido ou simplesmente ignorado por mim. Mais, ela não escreve apenas para a/uma 'elite':

«I don’t write only for the people who are going to read my books four times. Good heavens! I couldn’t, because there aren’t so many readers with that much energy. I don’t want to place so much expectation on the reader. I’m just happy for any reader to derive what they will. If someone wants to read just for entertainment, I hope that I can entertain them. I have a commitment to accessibility, I think partly because of where I came from as a person. I came from a class of people who were not readers of literature, who read newspapers maybe, or… the Sears Catalogue, but who never read great novels. And I think about those people when I’m writing, I want them to be able to read my novels and to take whatever they want from the story. I really insist that there is no wrong way to read my books. I mean, I’ve said that a lot before – except holding a book upside down, that’s really a wrong way!» in http://jsse.revues.org/index346.html

Sunday 30 May 2010

«Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência.» - Thomas Mann

Beleza na Dor

Numa vida passada fui artista, daqueles que pintam...Sei isto porque há uns tempos atrás tive o privilégio de conhecer um guru avant-garde da mente, uma Louva-Deus,que, a troco de uma lagarta suculenta, me facilitou um vislumbre do passado, através de uma ultra-moderna técnica, chamada regressão a vidas passadas.
Se o fizer sentir melhor, indiquei o esconderijo de uma lagarta da seda, selvagem, em vez de uma das minhas...Tem de compreender que havia algo simplesmente apelativo em descobrir quem havia sido noutra vida, se havia sido tão belo como sou hoje, como borboleta monarca...Humm! Parece que ainda está chocado com a minha atitude mas, se pensar bem, foi um sacrifício em prol do auto-conhecimento e da investigação sobre a beleza. Estou convencido de que assim que se inteirar do que descobri, acabará por compreender, senão perdoar completamente, a minha atitude.
Mas continuando...o que a Louva-Deus me permitiu aceder, fez-me sentir que a minha vida actual, como uma das borboletas mais bonitas do mundo, não é mais do que a recompensa pelo talento com que em tempos fui dotado...e pela vida de sofrimento que tive que levar. De facto, as mais belas obras-primas desse artista – eu próprio, na altura – foram pintadas quando ele – ou será que deveria dizer 'eu'? - vivia dolorosas crises existencialistas.
Ele era obcecado pela beleza, acreditando que a veradeira beleza apenas poderia ser alcançada através da dor. Que fique claro que ele era um artista livre de qualquer dependência de drogas ou álcool, que meramente havia aceite o seu papel como criador de beleza. No início da sua carreira como jovem pintor, dotado de um espírito de sacrífício altruísta e generoso, auto-inflingia-se feridas a fim de poder pôr o seu dom criativo ao serviço de um bem maior. E quão magníficos eram os seus quadros!
Contudo, este método tinha inúmeras desvantagens, já que alguns dos cortes ou outro tipo de feridas, acabavam por atrasar o seu desejo de criar algo delicadamente requintado. Foi então que deu início à reflexão sobre a relação beleza/dor, tendo chegado à conclusão não menos iluminada, de que eram dois lados de uma moeda, tal como os conceitos claro/escuro, yin/yang, guerra/paz, e por aí adiante.
Não foi uma decisão fácil, mas em benefício da beleza e do seu legado artístico para a sua comunidade e mundo inteiro, decidiu que deveria parar de se auto-mutilar e redireccionar a imposição da dor sobre outros seres.
Começou com pequenos animais como hamsters, gradulamente passou para cães e gatos abandonados e, finalmente, humanos...Pobre homem! A angústia mental por que deve ter passado, ao ter de fazer o que fazia, apenas para poder partilhar a beleza com o resto do mundo. Tem, concerteza toda a minha compaixão!
Essa foi uma longa e produtiva vida que levei, lá isso certamente foi.
Antes de ser chamado novamente ao aqui e agora pela admirável Louva-Deus, consegui ainda dar uma espreitadela aos últimos momentos da vida do artista. Deverá, ertamente, ficar satisfeito ao saber que ele faleceu calma e pacificamente durante a noite, possivelmente sonhando com uma ou outra cena que pudesse pintar ao acordar...
Foi com as asas meneando com grande agitação e extático de alegria, que saí da sessão com a Louva-Deus. Estava convencido que o pintor que em tempos fora estaria imortalizado e distinguido num, ou mesmo em vários, museus de renome mundial. Sim, definitivamente havia uma forte conexão entre mim e o tal artista: ambos nos sentíamos atraídos e fascinados pela beleza, acreditando que a dor não é mais do que um pequeno preço a pagar para a conseguir alcançar. Aqui refiro-me, naturalmente, à lagarta mencionada anteriormente. Estou certo que agora já concordará comigo de que fora um inevitável – se bem que vantajoso – sacrifício, não acha?
*
E foi, flutuando, livre de quaisquer preocupações, que a bela borboleta monarca foi surpreendida pelo movimento rápido de uma rede. Estava presa numa leve malha, da qual, por mais que se debatesse, não conseguia libertar-se...
Não muito tempo depois, a borboleta monarca encontrou-se, claustrofobicamente, encerrrada dentro de um frasco transparente, juntamente com uma borboleta rabo-de-andorinha, que soluçava inconsolavelmente.
– Hey! Rabo-de-andorinha, será que podes acalmar um segundo para me dizeres onde diacho estamos? – perguntou Monarca, com um toque de nervosismo na voz.
– Apenas posso supô-lo... – contestou Swallowtail tristemente – uma prima minha também foi apanhada por uma rede e levada para um lugar muito semelhante a este. Por sorte, ela conseguiu escapar! Por isso creio que sei a sorte que nos espera...Antes de conseguir fugir, ela ainda presenciou a tortura por que outras borboletas passaram e as suas agonizantes contorções por que passaram antes de finalmente sucumbirem à morte.

– Que queres dizer com isso? Porque foram assassinadas? - perguntou novamente Monarca, agora com pânico na voz.
– Segundo a minha prima, as suas pequenas cabecitas foram atravessadas por alfinetes não-corrosivos, espetadas num pedaço de esferovite e depois expostas em caixas de vidro...
– Mas que horror! Porque é que alguém nos faria uma coisa dessas? – mas Monarca mal teve tempo de terminar o que dizia quando sentiu um doloroso apertão no corpo que o puxava para fora do frasco.
– ...Para partilhar a nossa beleza com o mundo inteiro!
Foram as últimas palavras ouvidas por Monarca, antes de uma forte dor aguda e mortal lhe trespassar a cabeça.

- Copyright/Registado no IGAC

Se gostou de ler esta história por favor clique g+1 e/ou deixe um comentário.

The Beauty in Pain

In a former life I was an artist, the kind that paints...I know this because some time ago, I had the privilege of meeting a very avant-garde guru of the mind, a Praying Mantis, who, in exchange for a juicy caterpillar, helped me get a glimpse into the past, through an ultra-modern technique which she called past life regression.
If it makes any difference to you, I indicated the hideout of a Silkworm Moth caterpillar, instead, and not one of my own...You must understand that there was just something alluring about finding out who I'd once been and whether I'd been as beautiful as I am today as a Monarch butterfly...Hummm! You still seem shocked by my attitude, but if you think about it, it was a sacrifice for the sake of personal self-awareness and research into Beauty. I'm sure that as soon as you learn what I found out, you'll be able to understand, if not altogether forgive, my attitude.
Anyway, and moving on...What the Praying Mantis allowed me to access, made me feel that my current life as one of the most beautiful butterflies in the world is but the reward for the talent I was once endowed with as an artist, in that past life...and for a lifetime of woes. In fact, that artist's – myself at the time – best masterpieces were painted when he – or should I say I? – was going through painful existentialist crises.
He was obsessed with beauty and believed that real beauty could only come through pain. Let me stress that he was a sober, drug-free artist, who had simply accepted his role as a creator of beauty. In his early days as an artist he would, endowed with a generous, selfless and self-sacrificing spirit, actually inflict injuries upon himself, so that he could then put his gifted creativity to work for a greater good. And, my, were his paintings beautiful!
However, this technique did have quite a few drawbacks, as some of the cuts or other types of wounds would actually delay his effort to create something exquisite. That's when he began to muse about the relationship between beauty/pain, reaching the no less than enlightened conclusion that they were but two sides of the same coin, such as the concepts of light/dark, yin/yang, war/peace and so on.
It was a very hard decision to make, but for the sake of beauty and his artistic legacy to his community and to the world, he decided that he would have to stop hurting himself and shift the pain infliction onto other beings.
He started off with small animals like hamsters and gradually moved on to stray cats and dogs and finally humans... That poor man, the mental angst he must have gone through, having to do what he did just so he could share Beauty with the rest of the world. My heart goes out to him!
That was a long and fruitful life that I led, it was! Before being summoned back to the present by the admirable Praying Mantis, I managed to take a peek at that brilliant artist's last moments in life: You should be pleased to hear that he went peacefully in the night, probably dreaming of another scene he could paint once he woke up...
I felt ecstatic and was fluttering about with joy when I left the session with the Praying Mantis, certain that the painter who I had once been, was now immortalised and distinguished in one or even several world-famous museums. Yes, there was definitely a strong connection between myself and that artist: we were both drawn to and fascinated by beauty, believing that pain is but a small price to pay to achieve it. Here, of course, I'm referring to that caterpillar I mentioned earlier. I'm sure that by now you must agree that it was an inevitable – though worthwhile – sacrifice, don't you?
*
And it was floating carefree in the air that the beautiful Monarch butterfly was surprised by the swish of a net. It was trapped in the lightweight mesh and no matter how hard it struggled it could not set itself free...Not long after, the Monarch butterfly found itself in a closed jar along with a Swallowtail butterfly, who was sobbing uncontrollably.
'Hey, Swallowtail, can you calm down for a second and tell me where we are?' asked Monarch, with a nervous edge to his voice.
'I can only imagine...' replied the Swallowtail '...a cousin of mine was once trapped in a net and taken to a place very similar to this one. She managed to escape, that's why I think I know what's about to happen...Before she escaped, she saw the torture the other butterflies underwent and their agonizing wriggling before they died!'
'What do you mean? Why were they murdered?' asked Monarch in a panic-stricken voice.
'My cousin said that non-corrosive pins were stuck through their heads, into a foam board and then displayed in glass-covered boxes.'
'How awful! Why would anyone want to do that to us?' Monarch had hardly finished speaking, when he felt a tight grip on his body, which pulled him out of the jar.
'...to share our beauty with the rest of the world!' were the last words Monarch heard before a sharp, deadly pain went through his head.

- COPYRIGHT/Registado no IGAC

If you enjoyed reading this story please click g+1 and/or leave a comment.


VOA, VOA PAPAGAIO VOA!


Soltei o fio do nosso pagagaio. Não me custou tanto como temia. Doi, mas sobrevivirei.
Aceito a minha culpa: já há muito que não voava um papagaio; há muito que não me deixava deslumbrar deste modo. Mas como podia ter resistido? No início eras simplesmente delicioso, despertando em mim um sentimento de pertença. Só que não era uma relação de igualdade...Depois de muita flutuação de humores, reencontrei a lucidez e já não olho de baixo para cima, mas de igual para igual. À mesma altura, deu para ver que o fio do papagaio que voávamos em conjunto estava mais frouxo do teu lado. Pudera! Com os outros tantos papagaios que tinhas na mão, não podia ser de outra maneira. Durante algum tempo ainda tentei manter o papagaio no ar pelos dois, mas um dia vi que estava cansada. Afinal, tanta flutuação não me assentava bem. Muito menos me agradava. Por isso soltei o fio...
Enquanto tu não largares o fio do teu lado, o nosso papagaio poderá continuar a sobrevoar as nossas vidas...só que já sem as confidências de quem parece conhecer-se de outras vidas, e sem aquele sentimento de pertença. O meu sentimento de pertença (nisto nunca tive ilusões).
Estarei aqui, enquanto houver vento e enquanto continuares a segurar no fio do nosso papagaio.
Estarei aqui, só que não como dantes, sem flutuações...normal, normalito.
Voa, voa papagaio voa.
Soltei o fio. Doi. Sobrevivirei.

«Sou o Dono do Mundo!»

Sentados à volta de uma mesa, uns estudantes discutiam aquelas banalidades de sempre de quem se conhece há bastante tempo, se vê todos os dias e não tem grandes novidades para contar.
A certa altura um dos amigos que, por acaso, nem era estudante, mas que fazia parte do grupo por trabalhar no centro de fotocópias daquela faculdade, atreveu-se a atirar um comentário para o ar:
– «Sabem, sou o dono do Mundo!»
Primeiro veio o choque de mãos dadas com o silêncio, seguido pelo espanto do atrevimento de um tal comentário: Que ousadia!
Resultado: Uma hora e tal a discutir sobre a possibilidade e/ou impossibilidade de alguém ser dono do Mundo e, mesmo que tal fosse possível, o Mundo não estaria, com certeza, nas mãos de alguém que passava os dias a mudar 'toner' e a tirar fotocópias...
O rapaz ouvia, em silêncio, o que os outros diziam – o que só aumentava a tensão à volta da mesa. Que arrogância! pensavam...
Finalmente, quando os argumentos se começavam a repetir, o rapaz decidiu falar novamente:
– Sabem, podem filosofar e argumentar o tempo que quiserem sobre o assunto. Podem até chamar-me maluco e arrogante...Mas o facto é que tenho um gato que se chama Mundo. Eu sou mesmo o dono do Mundo!

Esta é uma história verídica. Ouvi-a em segunda mão há uns bons anos, mas na altura não lhe dei grande importância. Lembrei-me dela agora, precisamente por ter vivido – há uma questão de minutos – a sua antítese, o que em Inglês se chama «a conversation killer». A frase? Bom, eu nem queria acreditar:
– «Quero lá saber o que tu pensas!».
– «Então, adeus!» – A única resposta possível que me ocorreu.

Foi segundos depois de ter 'recuperado' desta curtíssima conversa (pois, prefiro canalizar a minha energia para coisas mais felizes) que me lembrei da história que acabei de contar. Nunca lhe tinha dado o devido valor e estou agradecida por ter tido semelhante epifania!

A história, essa, é simplesmente deliciosa e recheada de, não uma mas várias lições de vida: Primeiro, a fortaleza de espírito do moço que ousou fazer um comentário controverso, sabendo, antemão, que estaria no centro da linha de fogo. Segundo, a sua capacidade de apimentar uma conversa para que esta passasse do disse-que-disse para um debate interessante e produtivo. Terceiro, a sua capacidade de ouvir e de se interessar pelo que os outros diziam, mesmo quando os comentários eram menos amáveis. Quarto, a sensibilidade em detectar o ponto límite da discussão, a partir da qual nada mais poderia ser aprendido. Finalmente, o seu grande sentido de humor...Enfim, um grande sábio!

(13 de Maio de 2010 às 22:58)

E SE AS ESTRELAS ACABASSEM?

Sou agnóstica, i.e. não faço a mínima ideia se deus existe ou não. Nunca a vi, nunca a senti. Pois se existe não tem porque ser masculino. A existir, deus até poderá ser uma bela negra amazónica com tendências sado-masoquistas...Quem sabe?
No dia em que a sentir, gritarei a alto e bom som que de católica-nascida-sem-opção e agnóstica-por-falta-de-informação-em-primeira mão, me converti à tal religião.
Para mim, todos os livros religiosos que existem por aí, não são mais do que compilação de mitos, tais como os que existiam na época Greco-Romana. Deus, Alá, Jeová, Júpiter, Zeus...todos nascidos da necessidade de se justificar o injustificável, o desconhecido, o medo, bem como da necessidade em acreditar que esta vida por vezes medíocre e desprovida de sentido vale alguma coisa. Se vale ou não, isso cada um saberá...
Não necessito de ser reconfortada com a ideia de que na morte irei – ou não – ser concedida do privilégio de conhecer a dita cuja, e de poder disfrutar de uma existência serena nos jardins celestiais.
Cá para mim não necessito de me identificar à força com uma religião que, na maioria dos casos, foi criada por homens megalomaníacos com sede insaciável de poder.
Sim, sou agnóstica, mas confesso que não me importaria de encontrar algo que me fizesse sentir, com todos os sentidos e mais algum ainda por descobrir.

A Morte é capaz de ser o único conceito que me intriga, talvez por também nunca a ter vivido. Por isso, não temo a morte, a minha morte, está claro, não a das pessoas que me são próximas.
Naturalmente, como muitas outras pessoas, também me questiono se a morte é o fim ou apenas o começo de uma nova fase na nossa existência. Quando era mais jovem, a morte era apenas o que vinha depois do nascimento-infância- adolescência-idade adulta-e-terceira-idade (ou, então, da hoje em dia tão badalada quarta idade...mas naquele tempo não se ouvia falar desta última) ou que, de forma caprichosa e aliatória vinha em qualquer altura de uma dessas fases, apenas para abalar a aparente ordem natural da vida. Depois de mortas as pessoas eram sepultadas ou cremadas (forma, sem dúvida alguma, mais higiénica e demonstrando uma maior conciência de sustentabilidade e preservação de espaço) e isso era o ponto final dessa vida.
Contudo, com o passar dos anos, talvez através de livros que li, disto e daquilo, e de pessoas que conheci, fui aprendendo a gostar da teoria da reencarnação. Isto não quer dizer que seja uma aceitação incontestável e permanente, mas gosto da ideia. Não do conceito fatalista de alguns de que cá se fazem, cá se pagam, nesta ou noutra vida...mas na concepção de apendizagem para uma evolução espiritual, em que um dia nos tornaremos em nossa própria energia ilunimada (esperemos que não na forma da tal com traços de sado-masoquismo), cujo percurso não terminaria na morte.
Uma ideia louca...E se ao morrerem e reencarnarem as vezes que achassem necessário, a essência das pessoas se transformasse em estrelas brilhantes, no vasto manto nocturno em que nos encontramos a rodopiar?
Mais ainda, e se essa fosse meramente a primeira fase desse estádio iluminado (no sentido lato e abrangente). Isso explicaria que à medida que continuássemos a evoluir nesse novo plano de extistência, a nossa luz escureceria até acabar por se desvanecer completamente, até abraçar uma nova forma de existência...Mais, também explica o facto de algumas noites o céu se apresentar mais estrelado do que outros: quanto mais estrelas no céu, mais seres a terem conseguido alcançar esse primeiro estádio de iluminação; quando o céu se apresente como uma auto-estrada escura como o breu, apenas salpicada aqui e ali de estrelas com efeito catadióptrico, convidando-nos a celebrar a passagem de mais alguns seres feitos estrelas para mais um nível superior de iluminação e abnegação.
Mas – perguntam vocês – e se um dias as estrelas acabassem? Isso certamente quereria dizer que o ser humano já havia vivido o que tinha que viver, aprendido o que tinha que aprender e, naturalmente, estaria num outro ponto do universo, com outra forma, nome e feitio, vivendo, aprendendo e evoluindo com os seus erros e tentativas...
Se o espaço é infinito, também o número e as possibilidades de vidas são ínfimas.

«O que é um amigo? Uma única alma habitando dois corpos.»//«Friendship is a single soul dwelling in two bodies.» - Aristóteles

          Há pouco tive uma conversa interessante com um amigo sobre energias, e se as energias se reconheciam umas às outras. É uma teoria interessante, à qual subscrevo totalmente.
Aristóteles falava em 'alma', o que para uma Agnóstica poderá ser entendida como 'energia'...É interessante esta teoria, de uma mesma 'energia' habitar dois – ou mesmo, mais do que dois corpos. Sendo assim, não há apenas uma alma gémea por pessoa, o que pressupõe que haja diversos tipos de almas gémeas, i.e. não apenas aquela ligada ao amor...E, se pensarmos bem, o facto de podermos estar apaixonados por duas pessoas ao mesmo tempo, poderá confirmar a existência de mais do que uma alma gémea de cariz amoroso – o que não deixa de representar um azar tremendo nas nossas vidas o depararmo-nos, na mesma altura, com as duas!!!
          Este tema fez-me lembrar uma cena do filme BEFORE SUNRISE (Antes do Amanhecer), quando Ethan Hawke e Julie Delpy estão a viajar de autocarro, em Vienna. Lembro-me que só alguns anos depois, quando voltei a ver o filme, é que relamente entendi o que a personagem Jesse estava a dizer – basicamente o que foi dito anteriormente.

          OK, se aceitarmos a ideia da atracção das energias, também teremos que aceitar a ideia de que algumas energias são mais poderosas do que outras e que, se não estivermos atentos/as, estas poderão sugar-nos toda a energia...Por isso ganha, nas discussões acesas, a energia mais forte – uma maneira de evitarmos isso, é evitarmos imitar a agressividade dessa outra energia. O manter a calma será talvez a melhor forma de combater e evitar o 'roubo' da nossa energia...Mas, em contrapartida, nesse 'roubo' haverá, certamente, um absorver das ideias e vontades da energia mais forte, o que, curiosamente, também a debilitará...
          SOCORRO! Parece-me que de tanto pensar, o conceito das 'energias' já não está tão claro na minha mente!

«Love is composed of a single soul inhabiting two bodies.» / «Friendship is a single soul dwelling in two bodies.» - Aristotle


           A while ago I had a very interesting conversation with a friend of mine. It was about Energy and whether different energies would recognise one another. Aristotle used to talk about the 'soul' which, for an Agnostic, can be understood as 'e...nergy'. The idea of one 'energy' inhabiting two or even more than two bodies is fascinating and I fully subscribe to it. According to this theory, there is more than one soul mate per person, which means that there must be different kinds of soul mate, i.e. soul mates that aren't merely connected to love...On the other hand (and come to think of it), the fact that you can actually be in love with two people at the same time is proof that, in love, there can also be more than one soul mate; it is just sheer bad luck when we come across both soul mates at the same time!
           This theme reminds me of a scene in the film BEFORE SUNRISE, when Ethan Hawke and Julie Delpy are travelling around Viena by bus:


BEFORE SUNRISE (1995)

Jesse:Do you believe in reincarnation?
Celine: Yeah. Yeah, it's interesting.
Jesse: Yeah, right. Well, most people, you know, a lot of people talk about past lives and things like that, you know? And even if they don't believe it in some specific way, you know, people have some kind of notion of an eternal soul, right?
Celine: Yeah.
Jesse: OK, well this was my thought: 50,000 years ago, there are not even a million people on the planet. 10,000 years ago, there's, like, two million people on the planet. Now there's between five and six billion people on the planet, right? Now, if we all have our own, like, individual, unique soul, right, where do they all come from? You know, are modern souls only a fraction of the original souls? 'Cause if they are, that represents a 5,000 to 1 split of each soul in the last 50,000 years, which is, like, a blip in the Earth's time. You know, so at best we're like these tiny fractions of people, you know, walking... I mean, is that why we're so scattered? You know, is that why we're all so specialized?
Celine: I don't know. Wait a minute, I'm not sure... I don't...
Jesse: Yeah, hang on, hang on. It's a, it's a totally scattered thought. It... which is kind of why it makes sense.


          OK, then, if you accept the idea that energies attract one other, then you also have to accept the idea that some energies are stronger than others...And if you're not careful, the stronger energy can suck out all your energy from your body.... In a heated discussion, the stronger energy is most likely to win. A way of preventing this from happening is by not imitating that aggressive energy: Staying calm weakens the stronger energy as it cannot feed from your own energy.
          What do you think?

Mirror of Fire

Oh, Mirror of Fire
Why do you test me so?
Don’t you know?
Your blazing flames can only
Fail
To dissuade me
Don’t you see?
My love for thee is so – I’m
Ready
To embrace your fiery
Soul
Can’t you feel it now?
I’m yours.
You’re mine.
And behold!
To ashes and dust
I did not go
But with tender autumn petals
Did you my face kiss
instead
Mirror of Fire,
Your test has now been done
Mirror of Petals,
In you we are now
One

- COPYRIGHT/Registado no IGAC

Consciência Colectiva

Cada vez estou mais convencida de que existe uma consciência colectiva que a maioria de nós vai perdendo à medida que nos tornamos adultos. Se calhar o mais certo é tratar-se de uma consciência colectiva SELECTIVA, em que algumas pessoas se lembram de certo tipo de situações mas apenas algumas são capazes de as verbalizar, como é o caso da citação anterior, tirada do livro BRIDA. Quando a li, tive como que uma epifania: de repente esclareceu-se o que me aconteceu quando tinha vinte e poucos anos.
Um moço muito giro, por acaso, e eu andavamos na fase dos primeiros encontros (fase que hoje parece ter desaparecido): a fase da conquista, em que nada - nem mesmo um beijito – acontecia. Em três encontros deste tipo dava para ver se aquela primeira atracção – no meu caso, as borboletas no estômago – eram suficientes para namorarmos...Outros tempos! Bom, continuando...esse moço até me causava muitas borboletas mas, simultaneamente, eu também sentia algo que dizia 'foge'. No terceiro encontro, o pobre moço ía pedir-me em namoro (realmente, as coisas eram mais românticas antigamente! Ou, então, eu é que tive a sorte de conhecer sempre ´Príncipes')...mas ele era de ciências exactas (desculpem a generalização) e não tinha muito jeito para as palavras, por isso caíu no erro de iniciar a conversa assim: «Tu és como uma flor....» ...Adivinham o que disse a seguir? :
«...como uma flor numa jarra.» !?!
Pois...Eu tive um ataque de riso que tive que disfarçar em tosse...e como por vezes não consigo controlar as palavras que se me acumulam no fundo da garganta, tive, porque tinha mesmo que dizê-lo,senão arrebentava, que preferiria ser comparada a uma flor ainda no arbusto, no roseiral ou onde quer que fosse (menos numa jarra!) pois aí viveria mais tempo e menos 'confinada'...
O moço até era um bom 'partido': educado, trabalhador, lindo de morrer...mas a minha intuição veio a confirmar-se: posteriormente, ele mostrou um lado quase obsessivo, recusando-se a aceitar a rejeição.
Gostaria de ter escrito o que Paulo Coelho escreveu, mas quando li aquelas frases, senti que essa informação sempre esteve em mim, guardada nalguma célula do meu ser.

In praise of the LIVER / Em louvor do FÍGADO

When least expected, emotional bonds are established, and I believe that both the joy and sorrow that come with them reside in the – well, I was going to say ‘soul’ but agnostic as I am it simply wouldn’t sound truthful – so, what the heck, I’ll just say that that bitter or sweet taste can be found in the liver... How come? Well, it may be more of a blink-and-you-get-it-blink-and-you-miss-it kind of explanation. Here goes nothing: Agnostic as I am, the word soul just wouldn’t do, for I have to see and feel things in order to believe in them. Another option would be the word heart, for this organ is usually connected to emotions, e.g. when you say somebody’s heartbroken...Well, I’ve never accepted this metaphor because hearts are easily repaired, they can be cut open and sewn back together. By contrast, livers are trickier as they can’t be sewn without another wound being caused, with blood spurting from the exact place you stick the needle in; the healing process takes much longer or is simply irreparable. Emotions aren’t easy to manage and many people are unable to overcome the emotional bleed... This explanation is borderline corny and weird, I admit. But that’s just me or at least my very own perception of the world. On the up-side, it also helps me protect my own feelings and be more careful with those of other people’s. Does it make any sense at all to you?

****************************************************************************

Quando menos se espera, establecem-se laços emocionais e acredito que tanto a alegria como a mágoa que os acompanham, residem na – bem, ía dizer na 'alma', mas agnóstica como sou isso simplesmente iria soar a falso – por isso, apenas direi que esse sabor amargo ou doce pode ser encontrado no fígado...Porquê aí? Bem, não é assim muito fácil de explicar, podendo, num momento fazer sentido e no seguinte, se perder completamente o mesmo. Mesmo assim, tentarei explicá-lo: Agnóstica como sou, a palavra alma simplesmente não serviria, uma vez que necessito ver e sentir para crer. Outra opção seria a escolha da palavra coração, orgão normalmente associado às emoções, por exemplo, quando se diz que alguém está de coração partido...Nunca aceitei esta metáfora porque os corações facilmente podem ser abertos e cosidos novamente. Em contraste, os fígados são mais delicados e complicados, não podendo ser cosidos sem se infligir nova ferida sangrenta, no lugar exacto onde se espeta a agulha; o processo de cura é muito mais moroso ou simplesmente impossível de ser reparado. As emoções são tudo menos fáceis de gerir e muita gente é incapaz de superar o 'desangrar' emocional...
Esta explicação poderá parecer estranha – mas assim sou eu, ou pelo menos assim é a minha interpretação do mundo. O positivo de tal visão, é que me ajuda a proteger os meus próprios sentimentos e ter mais cuidado com os dos outros. Será que isto tudo faz algum sentido?

Amizade

«If you live to be a hundred, I want to live to be a hundred minus one day so I never have to live without you.»   - Winnie the Pooh

A AMIZADE vive-se assim.
Também é de estar presente (mesmo que seja do outro lado do oceano, do outro lado do auscultador,...) quando nos necessitam -- e não apenas querer partilhar os momentos de festa, alegria ou vitória. AMIZADE significa partilhar o nosso tempo com alguém sem deixar no ar o rastro do cheiro a perda de tempo. A AMIZADE é ouvir na voz da outra pessoa aquilo que não se diz. Na verdadeira AMIZADE reina a comunicação, honesta e verdadeira, que nem o tempo nem a distância podem destruir...Quando AMIZADE não se vive assim, somos confrontados com o silêncio ensurdecedor da SOLIDÃO.

Saudades do que uma vez julguei ter mas que, na realidade, nunca tive...

Faltando as borboletas
não há paixão
Faltando a paixão
não há amor
Faltando o amor,
Como pode este vazio –
cheio com a presença da tua ausência –
sufocar-me com teu cheiro
picante de malagueta e
doçura inebriante de champagne com sorvete
de limão?

CADA EXPERIÊNCIA É UMA LIÇÃO

Uma coisa que a vida me tem ensinado é que cada experiência é uma lição. Cada dia que passa torna-nos uma pessoa diferente. O que nunca ninguém nos poderá roubar, é a escolha de sermos quem somos ou mesmo de quem queremos ser!
A identificação das «lições» nem sempre tem sido imediata, mas desde que comecei a olhar para as «experiências» como uma espécie de apredizagem, tenho conseguido apreciar mais o que tenho ou o que tive, sem rancor nem ressentimentos. A minha vida tem sido um pouco de mala às costas, o que quer dizer que na altura de partir (antes do re-começo), tenho que seleccionar o que posso e quero levar comigo ou o que vou deixar para trás...Nunca é um processo fácil, mas é algo incontornável e que tem de ser feito. Acho que isso me tem ajudado em relação às experiências da vida: levo comigo apenas aquelas que creio que me ajudarão a tornar numa pessoa melhor, com aquilo que tenho naquele dado momento. São sempre experiências cujas lições ainda não consegui identificar muito bem mas que sinto serem importantes; uma vez assimiladas e «aprendidas» essas lições deixam de fazer parte da bagagem. É um pouco como aprender a dar o laço nos sapatos: uma vez que aprendemos a fazê-lo, deixa de ser um desafio nas nossas vidas, logo deixa de ser uma carga...
No entanto, por vezes as «experiências» são demasiado duras...e ainda levo um tempo a identificar a lição ou lições que tenho que tirar delas, desperdiçando, assim, demasiado tempo a pensar no que não tenho...Acho que é uma falha do ser humano! Por sorte, as falhas podem ser corrigidas! :-)

How the past has influenced who I am today.

If there is one thing I have learnt over the years is how not to become too attached to the past as it can only burden your journey through life. However, throughout my life I have both laughed and shed quite a few tears and, fortunately, I have managed to keep on moving forward, carrying only the weight of the constructive lessons I got from a few of those moments of laughter or sorrow. What I learnt from the following life-experiences illustrate not only who I am but also why I am like I am today.

Having been uprooted at a very young age, first when I was four and then again at the age of fifteen, I learnt that starting over – getting used to a new country, a new house and bed, and making new friends – can be a challenge but by no means an impossible ordeal. It is soothing to know that the variety the world offers is not a threat but rather an opportunity for personal growth. Although there are some drawbacks to such a nomadic life, I have met some beautiful people along the way who have made it all worthwhile, people who have taught me to appreciate the meaning of tolerance, patience, and generosity. Besides, it is also reassuring to know that there will always be someone out there willing to give you a helping hand and, above all, that you can – and should – rely on yourself, your instinct(s) and good judgement.

Another life-altering experience was when a French teacher recognised my keen interest in symbolism and introduced me to the mysterious world of the Tarot. As a substitute teacher, the presence of this woman in my life was brief, altogether not more than three or four hours. Nevertheless, she opened an unheard-of world to me. Curiously, the study of those symbols ended up being an invaluable asset at University: the many novels and poems that were part of the course syllabus became so much easier to interpret! However, the most valuable lesson I got out of this experience was the awareness that there are no fortuitous events in life: everything happens for a reason, even the people I meet – even if just for a few hours – are in my life at that moment for specific a reason …I just hope I am wise enough to acknowledge them and find myself in the right state of mind to accept the knowledge they are trying to share with me.

Indeed, to a certain extent I am who I am because of what life has taught me but I also like to think that I am much more than the mere projection of the past…I am a work in progress.