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( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Friday 22 July 2016

Resiliência

Algumas característas são inatas aos seres humanos, como a chamada «Gramática Zero» e a «Resiliência». Tanto uma como outra aparecem em estado bruto, à espera dos estímulos certos para se desenvolverem.

O que é, então, isso da «Gramática Zero»? Não é mais do que a capacidade linguística que os bebés têm de absorver as estruturas de todas as línguas existentes, desde que, obviamente, convivam com elas no seio da sua família e/ou meio. Quanto maior for o número de línguas com que um bebé tiver contacto no seu dia-a-dia e de forma constante, maior será o número de idiomas que aprenderá a falar. Se só tiver contacto com uma língua, então são as estruturas e vocabulário dessa língua apenas que a criança absorberá de forma natural.

O mesmo se passa com a resiliência, ou «a capacidade de superar e de recuperar de adversidades» [in http://priberam.pt]. Tal como no caso anterior, essa capacidade aparece num estado quase neutro, como uma esponja pronta a absorver a àgua para se tornar suave e moldável. É o meio envolvente do indivíduo que vai determinar se essa qualidade humana vai ser desenvolvida ou, pelo contrário, castrada.

Pais que sobreprotegem os seus bebés, não os deixando explorar o mundo, com medo que estes se magoem, ou que constantemente os ajudam a alcançar os seus brinquedos ou a levantar-se estão no caminho de criarem crianças inseguras, já que a resiliência depende de algum sofrimento, de algumas quedas, arranhões ou nódoas negras para a aprendizagem.

Do mesmo modo, uma criança que cresce sem elogios francos em casa ou na escola, dificilmente consegirá superar adversidades e pressões na vida.

Do outro lado da moeda, temos as famílias que, não descurando cuidados e atenção devida, permitem que a criança descubra o mundo do seu modo, a congratulam pelos seus sucessos, e conseguem incutir no seu espírito que, com preserverança e eforço, conseguirão derrubar barreiras e bater os seus próprios records.

Ao crescerem, os indivíduos resilientes tornam-se cada vez mais conscientes de como é importante o modo como a família e o meio se relacionam consigo. Na escola, os professores que valorizam o esforço dos alunos e os encorajam a trabalhar mais e melhor, como se se tratassem de atletas de alta competição a tentarem bater o seu record anterior, conseguem desenvolver neles melhores ferramentas de sobrevivência.

A eficácia do comentário positivo de um pai – «Estou certo que consegues uma nota melhor para a próxima, pois sei que te vais dedicar mais e melhor.» – terá resultados mais produtivos do que se disser «És sempre a mesma coisa. Parece que nunca chegarás a lado nenhum nesta disciplina.»

Também nenhum benefício terá a pessoa que ao abrir-se com alguém sobre algo que a preocupa, se deparar com uma mudança de foco de atenção: «Quando me sucedeu algo assim eu...» ou «Eu nunca teria feito isso assim, porque eu sou mais...» Uma pessoa resiliente saberá que deve encontrar um bom ouvinte, que não faça juízos de valor ou opine sobre o que ele/a faria nessa situação, mas sim que mostre empatia e mesmo no silêncio consiga levar a uma auto-análise da situação e da sua própria conduta.

Que utilidade há em dizer a uma criança que quando for grande não quererá ser dono de um abrigo para animais mas sim veterinária; não escritora de histórias de fadas mas sim jornalista; não actriz mas sim advogada ou político; …

Que utilidade há em dizer que um trabalhador só faz asneiras e que é mesmo burro, em vez de lhe perguntar o que acha que correu mal, como ele acha que melhor poderá resolver a situação? Não será melhor ouvir a pessoa e deixá-la chegar às suas próprias conclusões e soluções? Seguramente que sim. Um trabalhador que sabe que se errar não é humilhado, estará muito mais comprometido em identificar-se com a imagem da sua empresa. E se alguém tiver uma ideia estrambólica, não será melhor ouvi-la e saber como se propunha implementá-la do que descartá-la de imediato e ainda ridicularizá-la? Seguramente que sim. Senão, que teria sido do sonho de Edison levar a electricidade a todos os lares ou se o desejo de Tim Berners-Lee (pai da internet como a conhecemos) de aproximar as pessoas do mundo inteiro com o click de um dedo tivessem sido bloqueados apenas porque alguns não reconheceram nelas as ideias inspiradoras que foram?


Em suma, é verdade que «[a]s pessoas resilientes rodeiam-se de outros que as ajudam a colocar os problemas em perspectiva, compreendendo as suas preocupações e convicções, pessoas que as escutam, valorizam as suas opiniões, sonhos e ideias inspiradoras,»  [citação de Prof. P. Lopes, módulo de Inteligência Emocional e Resiliência]