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A Journey through the Desert

( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Saturday 13 November 2010

O Colibrí e a Flor

Esta é a história de uma bromélia do mato, de pétalas carnudas vermelho-alaranjadas, que um dia se apaixonou por um colibrí colorido.
O primeiro encontro deu-se numa tarde de intenso calor, por volta da hora da sesta da maioria dos animais e pássaros. Como de costume, os colibris eram dos poucos animais que se podiam ver a bailar pelas redondezas, pois são resistentes aos abrazadores e soporíferos raios solares, a seguir ao meio-dia. Bromélia-Flor estava quase a desesperar com o calor quando um belo colibri de cores azul-metalizadas, se aproximou dela, batendo as asas a uma incrível velocidade de 80 vezes por segundo, refrescando-a. Ai, que bem que sabia aquela brisa!
– Olá, jeitosa! Posso molhar o bico nessa tua base robusta e apetitosa?
– Pois, de subtil, não pareces ter nada...vais logo ao ataque. – disse Bomélia-Flor, um pouco chocada com o atrevimento do colibrí.
– Que queres dizer com isso? – respondeu o colibri um pouco consternado, pois não estava à espera que a bromélia sequer lhe respondesse. – É o que eu faço, sorvo o vosso mel e em troca ajudo-vos na polinização.
– Claro que sei disso, mas podias ser um pouco menos grosseiro. Primeiro chamas-me gorda e apetitosa – o que é tudo menos romântico – , e ainda por cima falas em 'sorver' o meu néctar...como se fosses um alarve!
– Que querias que eu dissesse? Apenas me lembro de uma outra palavra que poderia ter utilizado, e essa é que estaria no limite da ordinarice...
– Não, não precisas de me dizer qual é...prefiro ficar no mundo da ignorância. Cá por mim, preferia que me tivesses pedido um beijo...
– És mesmo um tratado. Como te chamas, oh florzinha do mato, com alma de poeta?
– Sou Bromélia-Flor...
– Bromélia-Flor, lindo nome. Eu sou o colibri Alor, encantado de a conhecer...Pensando bem, até acho que vou adoptar esse termo. Serei o Don-Juan dos colibris! O colibri que beija mais de mil flores por dia...
– Mais de mil flores? Que apetite voraz – quase que diria, depravado!
– Hey! Depravado, não...Como crês que conseguiria as 6660 calorias mínimas diárias para a minha sobrevivência?
– 6660 calorias mínimas diárias? – repetiu Bromélia-Flor, um pouco incrédula. Mas não és assim tão grande como isso e não deves pesar mais do que uns meros 3 gramas. Deves estar a tentar impressionar-me...
– 2,5 gramas, para ser exacto. Sim, estou em forma – disse Alor todo orgulhoso – faço muito exercício. Os mais avantajados da minha espécie chegam a pesar 6 gramas! Mas ainda te digo mais – 6660 calorias nem é assim tanto. No tempo frio, a ingestão de calorias pode dobrar...
– Xiiiiiiiiiiiii...! Mas...e não te cansas de andar de flor em flor?
– E, tu, não te cansas de estar aí sempre parada?
– Escusas de ficar todo arisco. Claro que gostaria de ver o mundo, mas como vês, estou presa ao solo e isso é, evidentemente, impossivel. Mas não é assim tão mau, pois sempre vou conversando com os bichitos viajantes que por aqui passam...O certo é que nunca falei com nenhum colibrí.
– Isso deve ser porque só agora é que “amadureceste”....
– Que queres dizer com isso? – replicou Bromélia-Flor, novamente na defensiva.
– ...se me deixasses terminar as frases, não teríamos destes mal-entendidos. Se calhar, apenas recentemente as tuas cores se tornaram garridamente vistosas. Eu, que já ando por aqui há algum tempo só hoje dei contigo. Somos muito sensíveis à cor.
– E antes de andares por aqui, por onde estiveste?
– Hã?
– Hã, não, o quê?...Perguntava se tens viajado muito?
– Apena por estas bandas...há flores, moscas, aranhas e formigas à fartura para me alimentar, sem ter que ir arriscar o pescoço em territário alheio.
– Quem haveria de querer fazer-te mal?
– Quem mais senão os colibris dessa outra área?
– Não entendo...
– Nós os colibris somos muito combativos e defensores do nosso território. Não gostamos que outros colibrís, ou outros pássaros quaisquer, venham meter o bico nos nossos assuntos...– como Bromélia-Flor não fez mais nenhuma pregunta, Alor prosseguiu – então, querida Bromélia-Flor, posso dar-lhe o tal beijinho que me pediu?
– Não fui eu que pedi...– mas, apercebendo-se, pelo olhar matreiro de Alor, que este apenas estava a brincar, acabou por ceder e deixou-se beijar.
O beijo não durou mais do que os normais 5 segundos, mas foi tão doce e tão intenso, que tanto Bromélia-Flor como Alor ficaram uns segundos sem ar e sem fala. O coração de Alor atingiu as 1800 batidas por segundo, de tal forma que Bromélia-Flor as conseguia ouvir e, a certo ponto, quase que jurava que as estava a sentir.
A romântica Bromélia-Flor estava nas núvens e o até então polígamo Alor estava confuso com o turbilhão de sentimentos que lhe percorriam o corpo todo. Mas, macho como era, lá conseguiu recompor-se.
– Bromélia-Flor, gostei muito deste tempo que passei contigo...
– Sim, eu também – interrompeu a flor, com uma voz entristecida, prevendo a despedida que se seguia.
– ...e gostaria de te pedir permissão para, a partir de agora, poder passar por aqui todos os dias, à mesma hora, até ao resto das nossas vidas, para podermos conversar um pouco...e eu te roubar um beijinho.
– Ora essa – disse Bromélia-Flor, com as pétalas um pouco mais ruborizadas – não precisas de roubar...eu dou-te todos os que quiseres.
          

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