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A Journey through the Desert

( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Wednesday 2 June 2010

Ponte de Salir - PARA ALÉM DA FOTO.

Chega-te um pouquinho mais a mim...Vou contar-te um segredo:
Desde pequena que vivo entre o-lá-e-o-cá de dois mundos: o lado da vida sonhada e o lado da vida vivida. A distinção entre os dois nem sempre é evidente. Por vezes, não sei mesmo se estou acordada no mundo onírico ou se estou a dormir no mundo real. De qualquer das formas, sou mais feliz num desses mundos, no que julgo ser o dos sonhos...Mas isto de viver entre o-lá-e-o-cá de dois mundos tem muito que se lhe diga: Cansa. Cansa muito. Em particular, o despertar.
Esses dois mundos existem nas margens opostas de um rio, profundo e misterioso. Não sei se a água será cristalina ou negra – ainda só a vi à luz da noite escura e antes do amanhecer. Nas noites em que se vê a lua até tenho a impressão que a água é dum verde-escuro prateado...mas nessas noites, o rio e o céu também se confundem...e nada é o que parece ser.
Todos os dias, antes do amanhecer, construo uma ponte para o outro lado...de cá para lá, para o mundo real.  Bom, para o que julgo ser o real. Deduzo que seja esse o lado da vida real, já que desperto para ela cansada.
Cada dia uma ponte. Cada dia, materiais originais: pedra, ferro, madeira, rubis, filigrama, M&Ms de amendoim, esferovite, crochet, tricôt,...Todos os dias, construo uma ponte antes do amanhecer, para esta se desfazer, desenrolar, ou desmanchar, a cada passo no meu regresso, ao anoitecer. Antes, era eu que a desmontava ou desfazia mas com o passar dos tempos, essa característica acabou por ficar registada no seu ADN. Da ponte.
Sim, sou mais feliz do lado de lá da realidade. Só há um momento de hesitação: depois de a construir, fico no meio da ponte à espera do amanhecer. Por vezes, do lado da vida vivida aparece algum/a conhecido/a para me dar um abraço silencioso. Por vezes, esperam um pouco mais, até os primeiros raios de sol rasgarem o céu.
Nunca ninguém ultrapassou aquele ponto-de-meio-caminho, mas é nessas alturas que eu sinto um aperto sufocante no meu interior e, por breves instantes, me questiono como seria se a ponte se desfizesse a partir da outra ponta?
Será que alguma vez conseguirei abrir mão da vida sonhada?
E tu, consegues ver como é belo o meu lado de lá?
Sei. És como os outros. Como aqueles que vêm ter comigo, por breves momentos, mas que nunca ultrapassam aquele ponto-de-meio-caminho...
Já agora...de que lado estás?

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