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A Journey through the Desert

( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Thursday 5 May 2011

PEQUENA HISTÓRIA: Partes 7-12, por Fernando Silva e Paula

(CONT.)

Parte VII
__________________________________ por Fernando Silva
           – Olha cá está… o velho frasco que trouxe de Phoenix. Transparente de noite, opaco de dia…! Claro! Mas como não pensei nisto antes…?! Deve ser para proteger o néctar prateado… mas que importância terá, para estar tão protegido… ou terá prazo de validade?
           Enquanto Juno e Kassandra conversam emocionadas sobre Theo, Mick olha para o intrigante frasco, mais claro que vidro e mais brilhante que cristal.
           As últimas poeiras atravessam o espaço por onde vagueia o MJK Mobile. O som que fazem ao roçar no pequeno objecto Phonoixiano deixam Mick perplexo – será que o som de sereias cósmicas se calará repentinamente se abrir o Phoenix-frasco?! … será que o perfume musical se fundirá no espaço e se apague no tempo?... ou será que o néctar prateado aumentará e intensificará a sua edílica magia?!
           Mick está hesitante, gostava de perguntar a opinião de Juno… ou talvez a Kassandra tivesse uma ideia sobre o assunto!?... como se tratam de ocorrências estranhas – especialidade da nova amiga – podia ser até que ela pudesse prever o resultado da abertura de tal objecto prateado…!?
           Mas nem Juno nem a nova tripulante parecem descolar… e Mick não tem qualquer hipótese de interromper… olha uma vez mais, na tentativa de uma das mulheres cruzar o seu olhar… mas, nada…!
           – Ora, ora…. e se eu abrir o frasco?!...Que mal pode acontecer?! Nada! Será menos um objecto a guardar na minha estante… mas, eu também não prometi que o levava até à Terra…. Se ainda houver Terra…
           …Mick segura o frasco… olha uma última vez para as suas amigas de jornada… e … e… Plock!?
           – Oblááá! Tás Blom?!
           – Ei, ei… quem, quem é você?!
           – Sou o Bili Bibi… ou bgénio do bespaço…! Desde e bformação de Phoebnix que bnão esticava os bracinhos…. Uauuuuu!!! Muito obribgado Mick…!
           – Olá… muito prazer! E sabes o meu nome?!
           – Beu estava enfrascado, bnão estava surdbo!!! Vou rir: bioc, bioc, bioc, bioc… último bioc!
           – Ai… ai…. O que é isso?!
           – Sou beu a rir!!! Em Phoébnix era de bom tom, avbisar quando começábvamos a rir e quandbo acabávamos…. !
           – Ahhh…. Txxxxx…. Se eu alguma vez, senhor génio, tinha pensado nisso!?
           – Chamaste-me Sebnhor bgénio?! Vou rir: bioc, bioc, bioc, bioc, bioc… último bioc!
           – Espera um pouco gé-génio… não vás embora… senão nunca mais acreditam em mim… tá-tá bem?
           Enquanto o Phoénix-génio observa a imensidão do cosmos, Mick dirige-se para junto das suas amigas… olhando para trás, a cada passo que dava para a frente….!
           – JUUUUNO, KASSANDRA!!!
           – Viste bicho, Mick? (Juno)
           – Não! Mas vi-vi-vi… bgénio!!! Está ali-li-li um bgénio… fui em… e sem querer… ele… bioc, bioc…(…)
           – Hã!?... Ahhhh, já sei… digo eu que sou Kassandra…eheheh… não me digas que passaram em Phoénix… (…)
           – Por acaso… até passamos… mal parámos… 19 séculos… só para ver o ambiente… (Juno)
           – E eu trazi/trouxe um bfrasco e bioc!
           – Ah ah ah…. Muito bem….! Temos então um génio a bordo!?... Quero ver! São tão giros… têm quatro braços…(…)
           – Quatro braços!?
           – Sim… depois conto-vos! Os Heridianeses surgiram da fusão de Phoenix com Apus. Uns com quatro e outros com dois braços. Vamos então….?!
           O trio-maravilha dirige-se para a popa da nave…! A música do além ecoa nos céus e a Génio faz de multimaestro com os seus multibraços… e as pernas aumentam e diminuem de tamanho, dependendo da flutuação dos braços….
           – Gé-gé-génio?! Estas são as mi-minhas amigas Kuno e Jassandra! So-somos três que éramos dois depois de eu ser só um… juntámo-nos há muito e de-depois há pouco tem-tempo.
           – Óblá… eu sou Bili Bibi… o bgénio do bespaço!
           – Muito prazer! Eu sou a Juno…
           – Olá… eu sou a Kassandra. Já estive em Apus e depois em …(…)
           – Vou rir: bioc, bioc, bioc, último bioc!
           – Tás a rir de mim, porquê Bili Bibi?!
           – Porque toda a bgente já besteve em Ápus!
           – E porque nunca deste sinal de vida? Não podias ter dado um saltinho Bibi Bili?(Juno)
           – Ao contrário Bjuno! Bili Bibi! Bili, da bparte da minha mãe, que era Gé! E Bibi, da bparte do meu pai, que era Nio…
           O quarteto está em animada cavaqueira na popa da nave! O quarteto, quer dizer, um trio em calma e tranquila conversa… e um Mick a tentar refazer-se do susto enquanto olha para o frasco de vidro… já sem tampa, mas muito especial… e até espacial!!!
           – … e bentão nós andamos a tirar o bcurso de Bgénios espaciais. Com pós-grabduação em Órbitas estreladas!
           – E como foste enfrascado? Foi na faculdade?! (Juno)
           – Fui… na UGU! Unibversidade Genial do Unibverso! Estávamos lá no rebcreio e de repente o meu bprimo Mini-génio Ébvoriano, gritou: Fuuuugem/Fuuuujam!!! Vem aí a bchuva de fraaaaascos!
           – E isso é comum?! (Kassandra)
           – É, e bnão é! Para mim, que era bgénio finalista, não era bmau! Agora, o meu bprimo como ainda era só mini-génio… se fosse enfrascado, nunca mais saía! Porque só no 150º ano aprendemos suster a brespiração, e na pós-grabduação, aprendemos a esticar e encolher…
           – Ah pois-pois! Ser enfrasca-cado nessa si-situção era muito com-complicado! (Mick)
           – E esse teu primo safou-se à chuva de frascos, Bili Bibi?!
           – Por abcaso safou…! Eu é que levei com este mesmo em bcheio!
           – Era de Apus, esse teu primo… É-Ébvor (...) (Juno)
           – Ébvoriano! Nasceu numa galáxia bvizinha, mas comprou um apartabmento satélite em Ébvora. Manias…!
           – Então Génio Bili Bili… queres ir connosco?! Vamos à procura do nosso planeta… (Juno)
           – Pois pois…! Da Te-Terra… vamos ver onde ela está…! Se lá está, quando eu saí para o espaço, parecia um Mick Voador… (…)
           – Talbvez esteja… nunbca se sabe… vamos?! Bvamos! Eu bvou convosco…
           – Então mete os bracinhos pra dentro… que isto é só corrente de ar… e com tantos bracinhos…ehehe… digo-te eu que sou Kassandra…!
           O MJK Mobile, agora MJKG Mobile… parte em direcção a qualquer direcção. Mick está um bocadinho menos gago, mas por via das dúvidas, Juno assumiu os comandos da nave. À rectaguarda, Kassandra e Bili Bibi falam de experiências de outros tempos… e a nave vai progredindo no espaço… ao longe… talvez a 1390 graus radianos-celticus de Vénus… mais duas águias-reais voam em direcção à direcção!
           – Oh… Bili Bibi… eu li não sei onde que os génios quando são libertados…. Apresentam-se e dizem: meu amo, concedo-te três desejos….! É que já estava na hora de ouvir isso, não achas?!... Tinha cá um desejo muito meu, que sou Kassandra, que era… (…)
           – Bentão!?!? Mas isso não era na bvida real!... Isso era nos bcontos de fadas! Bgénios a bconceder desejos?!?! Vou rir: bioc, bioc, bioc, bioc, bioc, último bioc!
           Já se faz tarde no espaço. Uma pequena (mas muito jeitosa) nave… atravessa suavemente o além… a tripulação ocupa agora todos os lugares sentados disponíveis. Quanto aos apoios de braços, se fossem mais, não se perdia nada.

Parte VIII
__________________________________ por Paula
           – Kassandra...KASSANDRA! Será que a poeira de música te fez ensurdecer, ou quê? – diz Mick já um pouco impaciente por se sentir ignorado pela enésima vez. Isto de se sentir posto de parte já estava a passar dos limites.
           – O quê?...Desculpa, Mick, estava distraída a pensar naquelas águias reais. Sabes, quando passei por Heridamos houve uma vez que também vi um pássaro, se era águia ou não, isso, já não sei, pois estava lá muito ao longe...
           – Sim, e...? – diz Mick já mesmo a perder a paciência. Pressentia que a conversa ía ser novamente desviada para o Theo. Será que sentia ciúmes de Kassandra? Não podia ser, pois, depois daquela sua viagem espaço-mental em que vira Kassandra como sua mãe, qualquer atracção que antes pudera sentir por ela se havia evaporado no instante. Então porque se sentiria ele assim, irritado?
           – Últimamente andas um pouco estranho, Mick. E ficas a saber que detesto que me dêem respostas monosilábicas!...Bem, como dizia eu... – continuou ela com um tom de voz mais arisco do que o costume, mas não por muito tempo pois ela, que era Kassandra, não era Ser para perder tempo com tonterias – ...podia ver-se uma ave lá ao longe onde o cosmos e o infinito se cruzam, e quando olhei para o Theo e... – aí hesitou um milésimo de segundo ao ver o rolar de olhos de Mick, mas escolheu ignorá-lo e prosseguiu com a sua história – e para minha grande surpresa, ele estava a chorar desalmadamente. Ainda tentei saber o que o tinha posto naquele estado de angústia, mas ele soluçava tanto que só se entendia 'a ave, a ave'. Infelizmente nunca consegui que me explicasse porque uma ave voando tão ao longe o afectara tanto. Sempre que mencionava o assunto, os seus olhos viravam cor de alface e enchiam-se de novo de lágrimas...
           – Uhummm... – fez Bili Bibi, limpando a voz, como se fosse dar um discurso importante.
           – Ai que susto! – gritaram Kassandra e Mick, ao mesmo tepo que davam um salto para trás.
           – És capaz de fazer o favor de avisar quando te aproximas? – exclamou Kassandra com o tom de voz ainda não totalmente reposto do susto.
           – Sim, pregaste-nos um susto de morte-imortal sem necessidade. Podíamos ter ficado gagos por mais de meia eternidade!...Até parece que andas a espiar-nos? – diz Mick com um tom ainda mais irritado do que antes.
           – Desculpem-me Kassanbdra da voz bdoce e Mick, meu libertador...Asseguro-vos que bnão era essa a bminha intenbção. Agora que já me chamaram à abtenção para isso prometo, a partir de abgora, esforçar-me por anunciar sempre a minha prebsença. Não vai ser fácil, pois nós os Phoénix-génios não btemos nenhuma norma que diga como o fazer. Mais tarde meditarei sobre o assunto e seguro que descubrirei albguma maneira...Mas voltando ao que eu queria dizer antes de quase vos bter causado uma gaguês-crónico-cósmica-de-mais-de-meia-eternidade. Pode ser que eu btenha a resposta à pergunta da Kassanbdra da voz doce...A tal, sobre a reacção lacrimal dos Heridianeses perante qualbquer ser voador de penas.
           – Há mais btempo que o próprio tempo se pode lembrar, houve um ser não-alado que sempre sonhou com poder bvoar. Era jovem, ambicioso e um tanto ou quantbo arrogante - característica não pouco comum dos jovbens da sua idade, que pensam que tudo podem fazer e que tudo conseguirão alcançar. Adiante...para além bdisso, era um inconformista e não conseguia abceitar o facto de que apenas se pode bpintar o quadro da vida com as bcores que se têm à disposição...
           – Nesse ponto até tinha razão – disse Kassandra meio pensativa – pois se forem cores líquidas, em pasta ou mesmo em pó, até se podem misturar e fazer um ínfimo caleidoscópio de cores.
           – Pois, eu nunca btive que pensar em btal coisa – diz Bili Bidi meio irritado pela interrupção. Limpando de novo a garganta, prosseguiu – Uhummmm...Se me permitem continuarei o meu relato, de preferência,bsem mais interrupções...
           – Pois, então, o tal jovbem cujo nome morreu afogado com o passar dos btempos, fabricou umas asas enormes, bastante enbgenhosas, feitas de bpenas e cera. Para surpresa de todos, no bdia em que as experimentou, elas até funcionaram lindamentbe. Um ser não alado a bvoar! Que vista mais espanbtosa e maravilhosa.
           – O jovbem estava em êxtase, voando e rodopiando bpelos céus. Mas, infelizmente, deixou que a sua arrogância se apoderasse bdele e acreditou que poderia bvoar ainda mais alto, que conseguiria alcançar o sol. E, de facto, quase que o conseguiu abraçar, não fbosse a cera das asas derreter ante o inbtenso bcalor dessa poderosa estrela, levando ao merbgulho descontrolado do jovbem até às profundesas do rio Heridanus. O seu corpo nunca bfoi encontrado. Uma história bastante triste mesmo para Bili Bibi. Então para os Heridaneses, nem imaginam! Eles que btanto admiravam a intensidade da coragem e inventividade do jovbbem, ficaram destroçados e, sensíveis bcomo são, a sua melanbcolia e tristeza depressa ficaram registadas a bnível celular, sendo passada de geração em geração.
           – Ai! Mas isso não é um mito Grego? – interrompeu Mick – Sobre Daedalus e o seu filho Icarus? E não foi o Daedalus que construíu as asas? Ele bem que avisou o filho que não deveria aproximar-se do sol! Só que Ícarus não lhe fez caso...Bem, sim, há algumas diferenças entre as histórias, mas parece ser a mesma, e com certeza que isso se trata de um mito e não de um facto real.
           – Preparem-se que me bvou rir: bioc, bioc, bioc,...último bioc...bpronto, já me sinto mais aliviado. Puxa! Bvocês os humanos são mesmo estranhos: acredibtam no que não se vê nem se bpode tocar, mas bdepois catalogam os factos que realmente são verdabdeiros como lendas muito bem enquadradas num espaço-tempo bmuito bem definido, e alteram-nas a vosso bel prazer para bque encaixem na bvossa herméticamente concebida bolsa de ideias e conceitos... É tão ridiculo que tenho que rir-me novamente: bioc, bioc, bioc, bioc e último bioc.
           Na sala de controlos da pequena-mas-muito-jeitosa nave, Juno está completamente alheia ao que se passa com os outros tripulantes. Nem lhe interessa muito, diga-se, pois está mais concentrada nas águias que consegue ver no radar. Já era a segunda vez que via um par delas e desta vez não queria perdê-las de vista.
           Em pequena o seu avô chavama-lhe 'Olho D'Águia' e uma vez explicara-lhe que era porque era uma menina muito perspicaz, penetrante e que possuía o dom de ver mais além do que um humano normal...tal como as águias. Que nunca deveria esquecer-se que esse era realmente o seu poder; que estivesse atenta, já que um dia esse dom ser-lhe-ia mais útil do que alguma vez pudesse supor ou sonhar que fosse possível.
           Naquele momento toda a atenção de Juno se concentrava naquelas duas aves. Pressentia que ao contrário do MJK Mobile, que seguia o percurso da deriva e do acaso, aquelas aves – epítome da força e da grandeza – pareciam saber exactamente por e para onde iam, e desta vez Juno não lhes iria perder o rastro.
           As aves haviam sido a grande paixão do seu avô. Ao longo dos anos aprendeu a reproduzir as canções de centenas de espécies diferentes na perfeição, e ao reformar-se pôde finalmente dedicar-se à observação das aves, chegando mesmo a participar em vários concursos de especialidade e de canto de pássaros. Ganhava sempre! De tal modo, que ele próprio acabou por desistir de participar nesses concursos por vergonha de levar sempre o prémio para casa: afinal não era isso, nem o reconhecimento dos outros, que o levava a participar. Um homem de poucas palavras, era assim como Juno o recordava. E quando falava era sempre para dizer algo sobre pássaros...Uma vez, quando precisou fazer um trabalho de História para a escola, o livro que o avô lhe emprestou começava com uma eloquente referência aos pássaros e ao seu papel importante na contagem da passagem do tempo e da eternidade. Havia gostado tanto dessa passagem que a havia memorizado e a havia repetido vezes sem conta à noite, como uma espécie de mantra antes de adormecer. Mas isto já foi há uma infinidade de tempo atrás. A ver se ainda se recordava:

           'High up in the North in the land called Svithjod, there stands a rock. It's a hundred miles high and a hundred miles wide. Once every thousand years a little bird comes to this rock to sharpen its beak.
           When the rock has thus been worn away, then a single day of eternity will have gone by.'

           O nome do livro era The Story of Mankind [de Hendrick van Loon], recordava-se bem. Aliás, gostara mais dessa introdução do que do livro em si...mas, também, História nunca fora o seu forte.
           Não deixava de ser irónico o facto de que no-aqui-e-no-agora ela estava presa no limbo da eternidade, com todas as suas esperanças canalisadas no sentido navegacional de duas águias.
           De repente as águias viraram uns 90º à direita e aumentaram a sua velocidade de voo. Não havia tempo a perder...Juno carregou no botão de alerta vermelho e prosseguiu com a perseguição às águias-reais. No radar, ainda bastante longe donde estavam as aves, uma luz violeta em forma de cornucópia piscava ritmicamente, ora estava, ora não estava...

Parte IX
__________________________________ por Fernando Silva
           A Nave carregadinha de boa gente, embora muito diferente… e boas intenções, embora muito diferentes… vagueia novamente pelo espaço. O destino, será o planeta Terra, ou o que resta dele… caso ainda exista uma pontinha de núcleo…
           E se a Terra se regenerou, como os rabos das sardaniscas e dos sardões… que voltam a nascer?!
           E se outros seres a habitam agora?! E se outros mares a preenchem?! E serão salgados?!... e se não forem… e se os novos peixes falarem… e se as novas aves não tiverem penas?!
           … e a Nave carregadinha de boa gente, boas intenções e muitos “ses”… com Mick aos comandos de bombordo… Juno na observação e controlo dos radares e sensores de temperatura… tentando vislumbrar alguma variação térmica que possa indicar algo de novo: uma ave, uma nova poeira, uma estrela cadente, uma gota de água ou uma pequena turbulência cósmica.
           Juno, olha para luz violeta em forma de cornucópia que sai do radar, franze o olho esquerdo…liga o ampliador de sinais…volta a ligar…volta a franzir o olho…concerta-se no banco multifunções da MJBG…ensaia a voz e dirige-se para o piloto e para os penduras da retaguarda:
           – Meus amigos…tenho uma variação de 56 graus de Dirthus…temos ar novo…
           – Ar novo…?!
           – Ar novo??
           – Ar bnovo???
           – Sim!!! Uma corrente de ar… que vem dos lados de Marte… pode ser um indicador interessante…
           – Ainda estamos a que distância de Marte?! (Mick)
           – Estamos a 125 dias se não pararmos, claro! Dias dos antigos, daqueles medidos a horas…humm, que saudades… (Juno)
           – Isso é que era bom… enchermos o peito com uma corrente de ar novo…! Digo-vos eu que sou Kassandra… ainda me lembro, uma vez em Hydrus…(…)
           – É, é… foi, foi!! Em Hydrus, houve uma correntbe de ar quandbo o planeta ficou às escuras… e depois bveio um ar bnovo.
           – Mick…! Vira a estibordo… vira para o meu lado… olha um pouco mais a baixo…! (Juno)
           – Já vai, já vai…! (Mick)
           – Vai, vai… Mick… força! Acelera isso… são uns pontinhos negros…! Parecem… parecem… parecem mesmo pontinhos quase negros, mas são negros! (Kassandra)
           – Vou rir…. Bioc, bioc, bioc, bioc, último bioc…!
           – Mick?!
           – Sim, Juno…
           – Liga os mega-faróis ultra sónicos!
           – Interruptor em carga… faróis ligados…!
           – São águias… centenas de águias reais… vêm de todos os lados e concentram-se naquele ponto… (Juno)
           – É onde está a passar a corrente de ar novo! (Kassandra)
           – Pode ser um ar gerado pela presença de um novo planeta… ou não?! (Juno)
           – Posso desligar os faróis?! (Mick)
           – Podes… meu piloto número um! (Juno)
           – E há mais algum?! Vou rir, bioc, último bioc!... É que podiam bter dito… é que nós os bgénios, temos uns olhos muito potentes… é a bvista génica… podemos vber uma forbmiga a 200 mil bmilhas Jupterianas….
           – A sério, Bili Bibi…?! (Juno)
           – E se um bdia fizer o bcurso para super-mega-bgénio… posso ouvir as forbmigas a passear… a 100 mil bmilhas…
           – Txxxx! Isso é que são uns ouvidinhos…! (Mick)…Bem, meus senhores…vamos voar um pouco mais rápido..rumo ao meeting point das águias…
           E lá partiu a pequena, mas muito jeitosa, nave prateada em direcção às super-aves…que vão pairando…quase sem bater as asas…cumprimentando-se entusiasticamente. No fundo, vêm de todos os quadrantes, de todas as galáxias… rumo à origem, à fonte do “ar novo”.
           O ambiente dentro do MJKG Mobile é de enorme expectativa. Mas, o que poderão encontrar eles?... o que poderão seguir eles?
           – Mas afinal o que poderemos encontrar nós?! Ou, o que podemos seguir nós?! Pergunto eu, que sou Kassandra?
           – Não sei, amiga! Mas, se as águias se reúnem naquele ponto, por algum motivo será…! (Juno)
           – É, é… bvou concentrar-me para ligar a bvisão super-bgenial…! Atenção, concentração do bcérebro……Ioio-bibibi-ioio-bibibi………ioio-bibibi-ioio-bibibi….. vi vi vi visão….. io io io io …. Já está……..
           – E o que vês?
           – E o que vês??
           – E o que vês??? Pergunto eu que…
           – Bvejo as águias muito conbtentes… vão num corredor muito bcertinho… até Marte….
           Vão com as bcrias…. E bvão muito conbtentes… são muitas… bdeixa cá bver… ioioio bibibibi ioioio…. Ioioioio….bibibibi… mat mat mat matemáticador…. Já está!!
           – O que foi agora Bili Bibi ?! (Juno)
           – São 245.456 águias… 122.728 pares…. 26.888 pares jovbens e 95840 pares adultos…. Todos saudáveis… bvê-se pela bcor das unhas das bpatas….
           – Eheheheh…. É o que faz ter um génio a bordo…! (Mick)
           – Bvou desligar os sistemas bgeniais…. io io io io zzzzzzzzz sistema bvisão out…. … io io io io….zzzzzzzzzzzzz sistema contabdor de matemática out….
           – Ahhh pois…! É conveniente desligar tudo… estes génios são muito bons, mas têm validade… (Kassandra)
           – Mick… faltam 12 minutos para o Eagle Meeting Point… motores de quartzo a 30 por cento!
           – Certo… minha capitã!!!
           O MJKG Mobile envolve-se com as águias em voos harmoniosos. No núcleo do Meeting point… há uma visão tão rara como fantástica… as águias a voarem na direcção dos nossos amigos… mesmo de frente… não de baixo, não de cima… mas de frente. Face to face! São sete os corredores de onde vêm… alinhadas, aos pares… com as crias por baixo e um sorriso estampado no bico. Os tripulantes do espaço parecem não querer abandonar o centro dos sete feixes de aves…
           – Hei… Mick!!! (Juno)
           – Sim, sim…que visão…! Milhares de águias que vêm de todas as direcções…em silêncio…num bater lento e compassado das asas…
           – E vêm de sete caminhos… são os dias da semana…! Cada corredor terá um significado… acho eu que sou…(…)
           – Mick! Bili Bibi! Kassandra!!!
           – Sim!
           – Sim!
           – Bsim!!
           – Temos de ir… sei bem o que custa abandonar a dança das águias, mas temos um caminho e uma missão… além de que o Natal está aí à porta… e faltam ainda 5 ou 6 viagens…
           – Como, Juno?!
           – Mick…meu querido companheiro de tantos e tantos séculos…se a Terra existisse, estaríamos perto do Natal…era uma época fantástica…as ruas iluminadas, a visão das renas e do Pai Natal…o sorriso nas crianças…o bafo que saía das nossas bocas…os cachecóis…as filhoses… as rabanadas…(…)
           – Juno?!...(Kassandra)
           – ….As bolinhas nas árvores…a meia que punha em casa dos meus avós…o meu avô que fez de Pai Natal até aos meus sete anos…humm…obrigado, avôzinho por me fazeres sonhar…. (Juno)
           – O que é isso do Bnatal?! É uma bcoisa com renas?!
           – Não, Bili Bibi…(Juno) Natal é uma época que…há muito, muito tempo…diz-se que… em Belém….
           Mick continua nos comandos de Bombordo…Kassandra ocupa agora o lugar de Juno…e esta capitã de missão sentou-se na retaguarda, junto ao génio Bili Bibi….
           … e três Reis Magos…vinham de camelo…e traziam prendas….
           A caminho do espaço…na rota das águias…em direcção ao planeta vermelho…o MJKB continua a 30% de potência quartziana….
           …e traziam ouro, salsa e mirra ao menino….
           – Vou rir!!! Bioc bioc bioc bioc, último bioc….Então se mirra o menino, porque é que traziam isso?!?! Assim o menino ficava ainda mais pequeno….Vou rir mais…duplo bioc, duplo bioc, duplo bioc, último duplo bioc…
           A nave com quatro tripulantes a rir plana suavemente….
           – Ehehehe…! (Mick)
           – Ahahaha…ahahahah…ahhhhhh ! (Kassandra)
           – Eh eh mas o Rei Mago Baltasar não queria mirrar o menino…Eh eh...era uma especiaria… (Juno)
           – Era uma bquê?!... então bdizes-me tu, minha ama, que um bcamelo carregado de mirra é uma…é uma…vou rir…Triplo Bioc.
           Nunca uma singela visão de aves reais tinha alterado tanto a esperança de uma tripulação conformada com a sorte de vaguear eternamente pelo vazio…mas sem nunca ter perdido a esperança…
           – Último triplo-bioc!

Parte X
____________________ por Paula
           No preciso momento em que se encontram a ler estas palavras, num mundo paralelo, não tão afastado dos nossos heróis como se poderia crer, encontra-se um pequeno grupo de seres iluminados de pé numa roda, lançando toda a sua energia positiva para o centro do círculo. O objectivo? A tentativa de revitalizar um mundo em perigo de extinção. Entre esses seres generosos e altruístas, encontra-se a deusa do fogo, com a sua coroa de sete raios de sol. Consciente das consequências do não-retorno, e de, a partir de aí, passar para sempre para o mundo do esquecimento ou, com um pouco de sorte, para o mundo da imortalização mítica, ela está ali, de alma na mão para se entregar ao ritual mais poderoso que se conhece: o derradeiro esforço para se conseguir revitalizar um mundo em risco de desaparecer para sempre.
           Com a ajuda poderosa da mente e das boas energias dos seus companheiros, a deusa do sol aguenta estoicamente a dor causada cada vez que um dos seus raios se apaga, lentamente, metamorfoseando-se numa majestosa e sólida montanha rochosa que chega para além dos limites do céu. Mas não, enganam-se. Não se trata da montanha da eternidade de van Loon...O suplício aceite sem uma única objecção – visando apenas um bem superior – e que levou a deusa das chamas ardentes e livres à rocha fria e sólida, ainda está longe de ter chegado ao fim. Os seres iluminados continuam em transe, canalizando a sua energia para o núcleo do acontecimento. Há um abanão, seguido de uma sacudidela violenta, e outra, e outra...Cada sacudilela mais intensa do que a anterior até que o propósito é alcançado e a poderosa montanha estala ao meio, rebentando em triliões de pequenísimas pedras. Aqui o poder mental dos seres iluminados é, mais do que nunca, essencial. Há que fundir todas essas partículas para criar uma nova deusa, a deusa de Mercúrio – não, não se trata do planeta Mercúrio, mas da substância que antigamente havia nos termómetros, símbolo químico Hg, do latim hydrargyrum que significa prata líquida. Sabem a que me refiro?
           O poder da mente é mesmo ilimitado e concentrado num esforço comum. Depressa o corpo esbelto e brilhante, cor violeta-metalizado, aparece no meio do círculo. Que beleza majestosa! Mas não é esse o derradeiro final daquela-que-uma-vez-foi-conhecida-pela deusa do Fogo. Há que conseguir moldar o corpo da deusa de Mercúrio cor violeta-metalizado no portal espaço-temporal mais poderoso alguma vez menta-materializado.
           E foi assim que o portal violeta-metalizado, em forma de cornucópia, com sete planos, anéis ou níveis diferentes de existência – como se houvesse não uma mas sete cornucópias enfiadas dentro umas das outras, como as Matrioshkas – apareceu no meio do universo, projectando uma vibração constante, como o pulsar de um coração gigante.
           Alheios ao esforço e ao sacrifício abnegado que se passava no outro mundo, para tentar salvar o único mundo a que alguma vez puderam chamar seu, os tripulantes do MJKG, agora mais calmos e em silêncio, começam a sua entrada pela boca da cornucópia. Qualquer escolha de nível seria um risco. Mas o sábio Bili Bibi depressa os elucidou:
           – Não há escolhas más. Quando se chega a uma encruzilhada de caminhos, de dois ou sete – o número é irrelevante – a escolha que fazemos é sempre a melhor escolha possível. Aceitem isso como facto e parem de se questionar sempre E se...? E se...? E se...? Isso é apenas uma lamentosa perda de tempo e energia.
           Eram quatro os tripulantes, pois, então, seguiriam pelo quarto nível da cornucópia. Quem sugeriu o quarto nível é igualmente irrelevante, nem mesmo a pessoa que fez a sugestão se deve lembrar de o ter feito, tal era o estado de espírito dos tripulantes.
           Um pouco antes de se aventurarem para dentro da boca da cornucópia, Kassandra afastou-se dos seus companheiros e foi buscar a cápsula-mensagem de quartzo, onde ela tinha enrolado uma carta que havia escrito a Theo.
           – Hey, malta...– disse um pouco hesitante – será que antes de entrarmos aí, podemos abrir a carlinga para eu atirar esta cápsula para o espaço?...É...É uma mensagem para o Theo...Não sei se alguma vez a receberá, mas pelo menos gostaria de tentar...
           – Claro, amiga. Vais ver que, com um pouco de sorte, essa cápsula de quartzo chega até ele. Aliás, é a mesma que ele enviou, não é? Kassandra confirma apenas com um leve acenar de cabeça.
           – Pois bem, está carregada com a energia dele, por isso de certeza que chegará até ele. Mick, abre a carlinga, por favor.
           Mal entraram na boca da cornucópia, perderam o total controlo da pequena nave. Era como se estivessem a descer por uma montanha russa, só que debaixo de água. Talvez não fosse água, era mais um líquido viscoso e transparente, que os fazia flutuar num movimento espiral, junto das paredes do quarto nível da cornucópia.
           O silêncio era colectivo. Nem mesmo Bili Bibi, o Génio do espaço, alguma vez vivera ou sentira algo semelhante.
           A cor violeta predominava e, por uns tempos, ninguém viu mais nada senão o violeta. Mas à medida que os seus corpos se íam habituando ao flutuar da nave e os seus olhos se habituavam à cor que os rodeava, começaram a reparar que à medida que o MJKB ía passando ao longo das paredes da cornucópia, estas se iluminavam e nelas podiam ver-se desenhos gravados. Eram nada mais nada menos do que a representação pictográfica da história da humanidade. Tanta dor...tanto ódio...tanta luta...Por outro lado também havia uma quantidade tão grande de amor e creatividade que os quatro companheiros da nave estavam todos com os olhos cheios de lágrimas agri-doces.
           Quanto tempo havia passado? Ninguém sabia dizer.
           Bili Bibi estava a viver a confusão pela primeira vez na sua longa vida. Mas mesmo sem o saber, continuava sábio como sempre, pois não sabendo que dizer, resolvera optar pelo silêncio. (Saltando um pouco à frente na história, o nosso querido Bili Bibi acabará por se tornar no primeiro mudo-por-opção do novo mundo.)
           Juno foi a primeira a quebrar o silêncio.
           – Há quanto tempo terráqueo estamos aqui dentro sabem? 1 mês? 2 meses? Quase 9...? Isto tudo é muito estranho e já estou a ficar irrequieta e desejosa de saír deste portal...Nem é que se esteja mal aqui dentro, pois não? Eu, por mim, nunca me senti tão segura como agora, mas sinto que há algo do outro lado que tenho que ver...
           – É exactamente o que eu sinto – diz Kassandra – Mas repararam que as paredes estão cada vez mais juntas?
           – ...É, já tinha pensado nisso. Acho que devemos estar a chegar ao final do portal – acrescentou Mick com a voz um pouco trémula.
           – Mick? Que se passa? – pergunta Juno, com olhar preocupado.
           – Nada. Não se passa nada!
           – Mick, sou eu a Juno, sabes que não me consegues enganar. Estamos juntos há tanto tempo que o meu coração bate mais depressa quando o teu também acelera...Vamos, diz-me...diz-nos...o que se passa!
           – Bom, lembram-se da forma do portal que vimos no radar? Era como uma cornucópia...se não me engano, estamos a chegar mesmo ao fim desta viagem e se a memória não me falha, a cornucópia terminava num ponto estreito...
           – E que quer dizer isso? – perguntou Kassandra olhando ora para Mick ora para Bili Bibi.
           O último apenas encolheu os ombros e tapou a cara com vergonha! Que espécie de génio era ele que não tinha respostas para as perguntas mais simples como estas?
           – Mick – Juno aproximou-se do amigo milenário e apertou-lhe o braço – Achas que não vamos caber? Que a passagem será demasiado estreita?
           Agora com Juno tão próxima de si, com aquele familiar cheiro da sua pele que o reconfortava, Mick olhou para os seus olhos e viu a angústia da sua companheira. Não, não podia vê-la naquele estado.
           – Juninho, não te preocupes, de certeza que não é nada de mais. O radar nunca nos deu as proporções exactas dos objectos que encontrávamos pela frente. Vai correr tudo bem.– dizendo isto Mick rouba-lhe um breve beijo, leve e carinhoso...
           – Agarrem-se todos bem, parece que vamos ser expelidos do portal! – grita Mick.
           E assim foi, tão doloroso como se de um nascimento se tratasse, com a mãe na sala de parto de perna aberta e o bébé a espremendo-se todo para conseguir sair cá para fora.
           Infelizmente o MJKB não saíu ileso, tendo ficado amachucado dos lados e completamente descapotado, mas todos os seus tripulantes estavam, encharcados, mas a salvo. Haviam caído dentro de um lago cor-de-rosa.
           Ainda levaram algum tempo a recomporem-se da experiência um tanto ou quanto traumática, mas depois começaram a nadar para a margem, arrastando consigo o que restava do MJKB, pois destroçado como estava, ainda continha muita coisa que certamente lhes iria ser útil naquele novo e estranho lugar. E que lugar! Parecia ter tudo o que uma vez existira na Terra, mas o impacto visual e olfactivo era um pouco desconcertante. Desde o lago cor-de-rosa que cheirava a pastilha elástica, à terra vermelha com cheiro a algodão doce, às àrvores com copas lilás com troncos amarelos...Era como se estivessem caído num quadro ainda por acabar de algum louco, guloso e daltónico pintor.

Parte XI

__________________________________ por Fernando Silva
           – Ufff…… por esta coisa agora é que eu não esperava! (Mick) Eu bem me parecia que a coisa no fim do coiso era muito estreita… estava com receio a coisa fosse bater nas paredes do coiso…
           – Nem tu, nem nenhum dos fantásticos tripulantes desta fantástica nave... envolvidos numa fantástica aventura… vindos de lugares tão recônditos e fantásticos… digo eu que sou (…)
           – Kassandra… a fantástica Kassandra! (Juno) Será que, fosse isto a tal terra que tínhamos pensado em pensamentos que podia ter existido em sonhos sonhados…?! Mas sempre em preposição de podermos duvidar com dúvidas?!
           – Bi… bi…bi…. Bi…zzzzzzz….zzzzzzz…….
           – Bili Bibi?! O que estás a fazer fazendo?! Não estás a ver vendo o mesmo que nós todos, os três, e contigo quatro…?! Que sem ti somos três… e apenas simplesmente queremos ter vontade própria interior de exteriorizar e simplificar simplesmente o que possa parecer dificultado por uma dificuldade difícil?!?! (Mick)
           – Bi….bi…bi….Bi…. zzzzzzzzz …. Zzzzzzzzzzzz…..
           – Oh meu genial génio repleto de genialidades geniais. O que te deu para te tornares tão repetitivamente repetitivo?! (Juno)
           – Bi….bi….bi…bi…. zzbiiii….zzzzbbiiiii……….zbi zbi zbi zbi zbi zbi…
           – Zbi-zbi, Bili Bibi…?! Efectivamente, o que te deu, para que efectivamente estejas em fase efectiva de efectivar todo um efectivo contexto de frases em repetições efectivamente repetitivas…?! (Kassandra)
           – Zbi zbi…bzi bzi bziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii…. Já está!!!!
           – Não sei o que está… está tudo na mesma…! (Mick)
           – Vou rir… bioc, bioc, bioc, bioc…. Último bioc!!! Então bvocês tinham bsido contaminados com o síndrome de Bubble Gum…!
           – Síndrome de quê?! (Juno)
           – De Bubble Gum… são pastilhas…! Quando se bcai nestes lagos… o aroma pegajoso da pastilha leva a que as pessoas bfiquem a repetir palavras e ibdeias…
           – Tipo cola?! (Juno)
           – Bpois!!! E quem cai no lago bvindo do blado da espiral…. Pode bficar com as ibdeias coladas.
           – E tu fizeste….uma magia…?! (Mick)
           – Uma bpequena magia…uma concentração bili-bibipolar que abprendemos no estágio de bgénio…é uma coisa muito simples…como um mágico esconder um blenço na mão…ou tirar um coelho da bcartola….!
           – Mick, como está o MJKG?! (Juno)
           – Parado, meu capitão! Parado! (Mick)
           – Esta a a falar de danos…podemos seguir viagem?!
           – Meu capitão…irei fazer um relatório…e relatar os danos laterais, bilaterais e colaterais sofridos pelo nosso companheiro de viagem e veículo por excelência!!!
           – Mick?!?!
           – Sim, meu supremo capitão!?
           – Tu estás a falar de modo diferente…estás com um sentido de humor mais refinado…! (Juno)
           A companhia está a tentar perceber que tipo de estragos tem a nave, muito pequena e jeitosa, por sinal. Rapidamente concluem que irão ter de continuar a aventura…em descapotável. Do pequeno acidente, fazem mais um motivo de conversa e boa disposição. Concluem que os descapotáveis são mais caros e desportivos… e são veículos para gente nova…. e eles apesar de terem sabe-se lá quantos séculos, o facto de terem saído da erosão provocada pela gravidade terrestre, deixou-os em excelentes condições físicas… e mentais…!
           O momento da atracção bio-pastilhenta, que os levou a repetir ideias e palavras, parece ter passado depois da intervenção do génio Bili Bibi. No entanto, o sentido de humor de Mick, parece estar diferente.
           Mas, e onde estarão agora?! Que terra será aquela?!... Porque tem árvores da cor de cogumelos… e aromas de feira?!
           Kassandra, dando azo à sua primária curiosidade, foi quem mais se afastou da nave…
           Mick anda a olhar para as árvores, a cantar…todo contente…parece que anda em festa. Naturalmente, tentará trazer um pequeno ramo, de preferência com flor - será mais uma recordação a juntar às outras, cuidadosamente armazenadas na porta bagagens do MJKB…e que contam a história duma loooonga viagem.
           Juno está com Bili Bibi…falam da experiência, da espiral, na cornucópia, da terra vermelha e dos corredores repletos de águias…
           – Bili… e agora?! Tens alguma ideia…se estávamos na rota de Marte…onde estaremos agora?! O mar de plasma mexeu com a minha capacidade de orientação… (…)
           – Bjuno?! Estamos no Éter-intermédio…Bmarte, bficou noutra rota…entramos no bquarto canal…Bmarte, seria no sexto…a épica bfórmula dos três bpares!
           – E agora…? Mas…eu até pensei que pudéssemos estar em Marte…o planeta vermelho… (…)
           – Estamos em Bmartenexus…é um plabneta parecido…é assim dizer um abnexo de Bmarte… (…)
           – Estamos ou não estamos no sistema solar?!...ou saímos novamente?!...será que aquela espiral atómica nos expulsou no espaço que conhecíamos?!...
           – Não, Bjuno! Bmartenexus…é um planeta que bgira na mesma órbita que bmarte, nas no sentido obposto…só que não se bvê…!
           – Não se vê?! Bili Bibi…como não se vê…? Mas, e as cartas galácticas…e os telescópios… e os radares e as sondas?!?!
           – E os gloriosos mistérios do bcosmos…Juno, meu amo?! Já bte esqueceste? Quantas bcoisas não sabemos e quantas habvemos ainda de bvir a saber?!...Quanto mistério, bquanta bfantasia…quantas poeiras reflectoras e transbparentes protegem bplanetas e estrelas…apenas por bcontacto físico as podemos combprovar…contacto bdirecto, presencial… (…)
           – Compreendo, meu bom Bili Bibi…então estamos num local protegido pelos infindáveis mistérios do mundo…?! O que será maior, o mundo ou o universo?!
           – Eu acho que pode ser o mundo universal ou o universo mundial…! (Mick)
           – Mick!! Mas que boa disposição! (Juno) … O que é que trazes aí?
           – São ovos! Ovos que tirei das árvores…fui à procura dos ramos floridos…subi, subi…e em vez de flores…tinham ovos…do tamanho de ovos de águia. Águia Real, claro, eheheh...!
           – Ovos…?! Ovos nas árvores?!...mas que terra mais…mais…tudo!? (Juno)
           – E estavam muito altos…as árvores são grandes…muito altas...os ramos mais altos ficam acima da névoas…digo eu que sou Kassandra…e o Mick trouxe quatro ovos para recordação…um para cada um…foi ideia minha…(…)
           – Então…e as águias?! Mas, deves ir recolocar os ovos, Mick..! (Juno)
           – Vou rir, bioc, bioc, bioc…último bioc…! Podes bpartir os ovbos!...à bvontade!!!
           – Hã?
           – Hã??
           – Hã???
           – Podem bpartir os ovbos…à bvontade…
           – É para já!!! (Mick)
           Enquanto Mick procura o melhor local para partir um ovo…os outros três aguardam com enorme expectativa…quer dizer, dois meio-apavorados e um génio, que é génio!
           Em Martenexus, o chão continua vermelho, as árvores continuam de copas lilases e troncos amarelos. No ar, o aroma a pastilha elástica e algodão doce, invade os pulmões dos tripulantes da expedição “Em busca da terra prometida”… agora na versão: “Em busca da prometida Terra”!
           Mick está a postos, com o primeiro ovo Martenexiniano… concentra-se, segura bem o ovo, debruçasse sobre um monte de pedras preciosas e bate, bate, bate… bate, bate, bate… agora com mais força… mas o ovo não se parte. Os companheiros Juno e Kassandra olham para o Bili Bibi… que, impávido e sereno retira um pequeno objecto que se perde numa das palmas das mãos. Dirige-se a Mick e entrega-lho:
           – Experimenta abgora!
           – Mas isto é uma pena! Como é que uma frágil pena de uma qualquer ave, pode partir um ovo super-resistente?!... Tás a brincar?!
           – Experimenta abgora, Mick!
           Mick toca com a pena no ovo e este abre-se…como se tivesse um sistema de abertura automático…! Dentro do ovo…estão muitas coisas…só coisas. Sementes de todas plantas do planeta e cápsulas com frases. Pensamentos de filósofos importantes que por uma outra razão, passaram por este planeta, por motivos idênticos aos destes aventureiros, ou por outros. Tem também pequenas cápsulas prateadas com doutrinas que civilizaram planetas já extintos… as cores, os sons, os aromas e os sabores sob a forma de pó.
           Como é natural… as conversas abrangem tudo o que é e não é, mas que pode ser…giram à volta tudo o que mexe e não mexe…e uma estranha sensação invade os quatro amigos.
           – Juno, Kassandra, Bili-Bibi...eu, eu não queria dizer, porque até pensei que me chamavam maluco…mas quando estive na copa da árvore dos ovos, pareceu-me ver um tempo escuro ao longe…mas pensei que fosse mais uma cortina de poeiras cósmicas…e afinal…
           – Está a fazer-se de noite! Estamos no sistema solar…no velho e companheiro sistema solar… que apesar de termos vindo por Saturno e Júpiter… como são planetas enormes só viajamos pelas partes claras… agora aterrámos! (Juno)
           – Aterrámos, queremos dizer… Amartexianámos!! Vai ser de noite, vai ser de noite…! Finalmente vamos ver o escuro… yuuuupiiiii ….(Kassandra)
           – Reparem… as árbvores estão a ficar com os btroncos iluminados…! Ficam flourescentes… e as bcopas bvão emitir raios para orientar os bcéus o os sistemas…
           – É fantásfico… uma noite em Martenexus…se alguma vez me tinha passado pela cabeça?! (Mick)
           – Estaremos a caminho da Terra?!...iremos retomar a rota das águias?!... O que achas Bili-Bibi (Juno)
           – Bsei lá! Perbguntem à Kassandra… ela á que bsabe…!
           – Kassandra…Kassandrinha…como se sai desta?! (Juno)
           – Bem…digo eu que sou…aquilo que já sabem…pela minha experiência de viajar por tudo o que é sítio…

Parte XII
__________________________________ por Paula
           – …pela minha experiência de viajar por tudo o que é sítio, é que na realidade não há um lugar melhor do que outro, apenas lugares diferentes que se mantêm quase sempre iguais durante uma infinidade de tempo e que, por isso, acabam por ser iguais a todos os outros – acrescenta Kassandra. – A meu ver, este lugar não me parece assim tão mal quanto isso e talvez mereça uma exploração de território mais profunda. Sempre é melhor do que estar navegando sem rumo no espaço na esperança de aqui a um século – ou um milió-mega-milénio, quem sabe? – encontrarmos um novo planeta com ar que possamos respirar e terra que possamos pisar...Não sei, parece-me precipitado sairmos daqui disparados com o MJKG no estado em que está.
           – Crêes, então. que o melhor será ficarmos por aqui? Mas será que aguentamos esta explosão de cheiros e cores por muito mais tempo?– Mick parece reluctante em ficar-se por alí. Ele ainda acredita na possibilidade de voltar a encontrar um pedaço da sua querida e saudosa Terra.
           – Pois, não tenho a resposta para essa pergunta, Mick, mas esperarmos um pouco mais até termos uma ideia mais precisa do que pretendemos fazer, que rota devemos seguir e, especialmente, tentarmos arranjar o nosso meio de transporte, não me parece descabido de todo – responde Kassandra calmamente. – Mas claro, somos quatro e os quatro devemos decidir o que fazer. Só digo que talvez seja melhor esperarmos até termos uma ideia mais clara do rumo que queremos seguir.
           – Acho que a Kassandra tem razão. – remata Juno. – O MJKG Mobile não me parece estar em condições para prosseguir caminho. Com tempo, e entre os quatro, seguramente que o conseguiremos reparar...Mas, o mais urgente, neste momento, é encontrarmos um local para nos abrigarmos...Essa núvem negra que se aproxima, quer seja o cair da noite ou não...necessitamos urgentemente encontrar um abrigo.
           – Sim, não sabemos quanto tempo durará nem o que se poderá passar durante esse período – diz Mick
           Bili Bibi encontra-se novamente calado...Estava pasmado com a sensatez com que estes seres humanos, longe de serem dotados da inteligência dos génios, estavam a discutir o seu futuro. Por enquanto não iria intervenir...Estava na presença de uma das melhores escolas de aprendizagem: a observação.
           – É possível que já tenha encontrado o lugar ideal para nos abrigarmos. – acrescenta Kassandra com uma voz confiante. – Quando me aventurei por aqueles lados ouvi o que me pareceu ser um doce e suave choro...apesar de melancólico era como música para os meus ouvidos, por isso, decidi deixar-me conduzir pelo som, até que cheguei a um lugar precioso, com uma catarata de açúcar em ponto pérola.
           – Açúcar-em-ponto-pérola? Wow, este lugar é mesmo um achado... – diz Juno – ...mas, continua, continua, que mais viste?
           – Os meus sentidos estavam todos tão embriagados que para ser sincera não prestei muita atenção. Tentei concentrar-me apenas na deliciosa música daquela catarata solitária, e quando me aproximei, vi um caminho feito de cubos de açúcar que passava ao longo do penhasco rochoso e que continuava por detrás das doces lágrimas da catarata.
           – E seguiste caminho? O que encontras-te detrás da queda-d'água-de-acúcar-em-ponto-pérola?– pergunta Mick realmente curioso e com um renovado respeito por Kassandra, pela coragem e espírito aventureiro demonstrado.
           – Claro que sim. Mas não havia lá nada. O interior da gruta era em forma de estrela de sete pontas, donde saíam novamente sete corredores com o que me pareceu ser as sete cores do arco-íris. Pareciam vazios, mas como já me havia afastado de vocês há tanto tempo, resolvi regressar. Pareceu-me ser um lugar seguro... – como nínguém parecia querer interrompê-la, prosseguiu com o seu relato. – No centro da estrela há espaço suficiente para todos nós e também para o MJKB Mobile – pelo menos até passar a escuridão...Embora eu também esteja anseosa por ver como fica este mundo, uma vez coberto com a tal manta negra. – diz Kassandra, sempre fiel a si mesma.
           – Então, está decidido? Vamos para a tal catarata? – pergunta Mick, mais uma vez demonstrando uma leve tranformação no seu carácter.
           Segundo Juno, parecia mais seguro e confiante em si mesmo – uma mudança para melhor, pensou ela com certo orgulho do seu amigo de longa data.
           – Bili Bibi, concordas? – pergunta Mick.
           Mas Bili Bibi já estava a arranjar maneira de transportar o veículo com o menor esforço possivel pelos quatro viajantes, ou não fora ele um génio!

           – Pronto, malta, alguém mais quer ir ver a noite em Martenexus? – pergunta Kassandra à medida que se dirige para a saída da gruta.
           – Para já não, eu e o Mick vamos ficar aqui a analisar o estado do MJKB Mobile. Talvez nos juntemos a ti mais tarde. – diz Juno.
           – Bili Bibi? – pergunta Kassandra olhando para o génio do espaço. – Quê? Porque estás a olhar para mim assim?
           – Nada, Kassandra da voz doce, nada. Vai indo que já vou ter contigo. – responde Bili Bibi com uma voz solene, quase triste.
           E assim foi. Kassandra segue o caminho dos cubos de açúcar por detrás da catarata – agora mais luminosa do que nunca – parando no ponto onde terminam as lágrimas de acúcar-em-ponto-pérola. Kassandra fica ali pasmada a olhar para a beleza que a rodeia...parece estar numa feira de divertimentos, à noite, com as mil e uma cores dos carrocéis, montanha-russas e roda gigante...
           De certeza que estando num ponto mais alto conseguirá ter uma vista ainda melhor, por isso decide escalar a parte rochosa da cascata, que cheirava a chocolate derretido, daquele pronto para barrar os bolos. Estava em forma, e a escalada não foi difícil. Lá em cima, Kassandra senta-se de perna cruzada mesmo na beirinha do penhasco. Respira fundo deixando-se invadir por uma míriade de cores e cheiros, ainda mais intensos agora ao anoitecer. Se alguma vez buscara a beleza e perfeição, podia dar-se por satisfeita, pois ali estavam os dois conceitos de mão em mão.
           Mas Kassandra também sabia que uma pessoa só atinge a perfeição na morte.

           Estimado leitor, parece estar chocado com o desenvolvimento da história. Não devia, pois nunca ninguém lhe disse que esta viagem no espaço se tratava de uma comédia. Muito pelo contrário, está empregnada pelo desejo do regresso às origens e do auto-descobrimento...

           – Kassandra... – interrompe Bili Bibi os pensamentos de Kassandra nesse preciso momento.
           – Sim, Bili Bibi? – a voz de Kassandra atingia agora o tom mais doce e suave que alguma vez tivera. – Chegaste mesmo na hora certa.
           – Sim, eu sei. Soube que havias alcançado o teu estado de perfeição assim que aterrámos no lago cor-de-rosa.
           – És mesmo um géniozinho inteligente, não és? Só agora é que me dei conta disso.
           – ...Não queria que estivesses só.
           – Obrigada, amigo. Mas não tenho medo, antes pelo contrário, sinto-me invadida de uma poderosa e calma alegria...Vou morrer. Não me olhes assim com esses olhos tristes...Eu não estou triste, sinto-me leve como uma pluma e todos os meus sentidos estão, pela primeira vez, a disfrutar de tudo o que me rodeia. Que maneira mais bonita de deixar este plano de existência...
           – ...Bili Bibi? Emprestas-me o teu ombro – é que o sabor destes cheiros e cores pesam-me na cabeça.
           – Claro. Já não falta muito...– Bili Bibi está triste, mas também calmo e sereno. Ele sabe que esta é apenas uma das muitas vidas de Kassandra. Não é o fim, mas o início de um outro nível de existência da sua amiga.
           – Kassandra, – prossegue ele – lembras-te de me perguntares, quando nos conhecemos, se te poderia conceder um desejo?...Pois, isso de génios concederem desejos continua a acontecer só nos contos de fadas...mas se tiveres algum desejo final, eu farei tudo para conseguir cumpri-lo.
           – És mesmo um querido, Bili Bibi. Sim, há uma coisa que gostaria que fizessem. Quando morrer quero ser incinerada, acho que não será difícil fazê-lo...depois, com as minhas cinzas, gostaria que fizessem um quadro com esta paisagem – podes tirar uma fotografia mental agora para mais tarde a copiarem para uma tela, por favor? – e a metessem numa cápsula-mensagem para Theo. Se alguma vez chegar até ele, ele saberá do que se trata, e ficará feliz por ver como a chama da minha vida se apagou de uma forma tão bela e poética. Se não chegar até ele, também não haverá problema. O espaço é tão maravilhoso e misterioso, que não me importarei de ficar eternamente a viajar de galáxia em galáxia...
           – E as cinzas que sobrarem... – continua Kassandra – deitem-nas pela cascata abaixo, pois faremos companhia uma á outra...
           – Com certeza Kassandra da voz doce. Os teus desejos são ordens...
           – ...Bili Bibi? Fico feliz porque cheguei a conhecer-te a ti, á Juno e ao Mick.
           – Eu também, amiga, eu também...

           Bili Bibi fica ali no topo da cascata com a cabeça de Kassandra encostada no seu ombro até que Juno e Mick chegam para se unirem a eles, antes, a ele, pois de Kassandra só restava o seu corpo físico com um doce sorriso nos lábios.


CONTINUA...
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