Algumas
característas são inatas aos seres humanos, como a chamada
«Gramática Zero» e a «Resiliência». Tanto uma como outra
aparecem em estado bruto, à espera dos estímulos certos para se
desenvolverem.
O que
é, então, isso da «Gramática Zero»? Não é mais do que a
capacidade linguística que os bebés têm de absorver as estruturas
de todas as línguas existentes, desde que, obviamente, convivam com
elas no seio da sua família e/ou meio. Quanto maior for o número
de línguas com que um bebé tiver contacto no seu dia-a-dia e de
forma constante, maior será o número de idiomas que aprenderá a
falar. Se só tiver contacto com uma língua, então são as
estruturas e vocabulário dessa língua apenas que a criança
absorberá de forma natural.
O
mesmo se passa com a resiliência, ou «a capacidade de superar e de
recuperar de adversidades» [in http://priberam.pt]. Tal como no caso anterior, essa
capacidade aparece num estado quase neutro, como uma esponja pronta a
absorver a àgua para se tornar suave e moldável. É o meio
envolvente do indivíduo que vai determinar se essa qualidade humana
vai ser desenvolvida ou, pelo contrário, castrada.
Pais
que sobreprotegem os seus bebés, não os deixando explorar o mundo,
com medo que estes se magoem, ou que constantemente os ajudam a
alcançar os seus brinquedos ou a levantar-se estão no caminho de
criarem crianças inseguras, já que a resiliência depende de algum
sofrimento, de algumas quedas, arranhões ou nódoas negras para a
aprendizagem.
Do
mesmo modo, uma criança que cresce sem elogios francos em casa ou na
escola, dificilmente consegirá superar adversidades e pressões na
vida.
Do
outro lado da moeda, temos as famílias que, não descurando cuidados
e atenção devida, permitem que a criança descubra o mundo do seu
modo, a congratulam pelos seus sucessos, e conseguem incutir no seu
espírito que, com preserverança e eforço, conseguirão derrubar
barreiras e bater os seus próprios records.
Ao
crescerem, os indivíduos resilientes tornam-se cada vez mais
conscientes de como é importante o modo como a família e o meio se
relacionam consigo. Na escola, os professores que valorizam o
esforço dos alunos e os encorajam a trabalhar mais e melhor, como se
se tratassem de atletas de alta competição a tentarem bater o seu
record anterior, conseguem desenvolver neles melhores ferramentas de
sobrevivência.
A
eficácia do comentário positivo de um pai – «Estou certo que
consegues uma nota melhor para a próxima, pois sei que te vais
dedicar mais e melhor.» – terá resultados mais produtivos do que
se disser «És sempre a mesma coisa. Parece que nunca chegarás a
lado nenhum nesta disciplina.»
Também
nenhum benefício terá a pessoa que ao abrir-se com alguém sobre
algo que a preocupa, se deparar com uma mudança de foco de atenção:
«Quando me sucedeu algo assim eu...» ou «Eu nunca teria feito
isso assim, porque eu sou mais...» Uma pessoa resiliente saberá
que deve encontrar um bom ouvinte, que não faça juízos de valor ou
opine sobre o que ele/a faria nessa situação, mas sim que mostre
empatia e mesmo no silêncio consiga levar a uma auto-análise da
situação e da sua própria conduta.
Que
utilidade há em dizer a uma criança que quando for grande não
quererá ser dono de um abrigo para animais mas sim veterinária; não
escritora de histórias de fadas mas sim jornalista; não actriz mas
sim advogada ou político; …
Que
utilidade há em dizer que um trabalhador só faz asneiras e que é
mesmo burro, em vez de lhe perguntar o que acha que correu mal, como
ele acha que melhor poderá resolver a situação? Não será melhor
ouvir a pessoa e deixá-la chegar às suas próprias conclusões e
soluções? Seguramente que sim. Um trabalhador que sabe que se
errar não é humilhado, estará muito mais comprometido em
identificar-se com a imagem da sua empresa. E se alguém tiver uma
ideia estrambólica, não será melhor ouvi-la e saber como se
propunha implementá-la do que descartá-la de imediato e ainda
ridicularizá-la? Seguramente que sim. Senão, que teria sido do
sonho de Edison levar a electricidade a todos os lares ou se o desejo
de Tim Berners-Lee (pai da internet como a conhecemos) de aproximar
as pessoas do mundo inteiro com o click de um dedo tivessem sido
bloqueados apenas porque alguns não reconheceram nelas as ideias
inspiradoras que foram?
Em suma, é verdade
que «[a]s pessoas resilientes rodeiam-se de outros que as
ajudam a colocar os problemas em perspectiva, compreendendo as suas
preocupações e convicções, pessoas que as escutam, valorizam as
suas opiniões, sonhos e ideias inspiradoras,» [citação
de Prof. P. Lopes, módulo de Inteligência Emocional e
Resiliência]