Para a minha sobrinha de sete anos,
que anda apaixonadíssima pelo
cantor Pablo Alboran
Na
quinta do Vale Verde os animais têm andado todos alvoroçados com o
novo galo. Também não é para menos já que o Galo Boran possui uma
voz poderosa e enigmática, o que deixa as meninas a suspirar pelos
cantos e os meninos roídinhos de inveja. Eu cá, acho um pouco
irritante ele insistir em dar os seus concertos mal o sol rompe os
céus.
Adiante.
No terceiro curral a seguir aos estábulos, encontra-se a pocilga da
Porquinha Pipoca. A pocilga é um lugar convenientemente bem arejado
já que o odor corporal desta espécie é notoriamente conhecido como
sendo peculiar. Na parte da frente da pocilga há um lamaçal
convidativo, onde os porcos todos passam a maior parte do tempo a
chafurdar. Não acho piada nenhuma a isso. No outro dia,
borrifaram-me a asa esquerda com um pouco de lama e foi o cabo dos
trabalhos para conseguir voar até ao chafariz para me lavar. Mas os
porcos parecem divertir-se e por um lado até acho que a lama lhes
faz bem, ajudando a manter uma pele jovem e rosada por mais tempo.
Isso julgo eu, pois tenho uma dificuldade enorme em adivinhar a idade
dos porcos...Bom, só se for pelo tamanho, quanto maiores mais
velhos, será?
E eu?
Ai, desculpem. Esqueci-me de me apresentar. Sou Papagaio Paulradora.
Sou a habitante mais viajada da quinta e sei tudo o que se passa por
estas bandas.
Dez
horas da manhã apenas, e Porquinha Pipoca já está outra vez a cair
de sono?
-
Porquinha Pipoca, que se passa? Tens andado muito dorminhoca. Por
sorte são as férias de verão e não há escola, senão é que
seriam elas! Neste estado de espírito não conseguirias
concentrar-te no grunhidabeto com certeza. Olha...
-
Aiiiiiiii! Tu é que me cansas ao falares tanto e tão rápido,
Papagaio Paulradora. Deixa-me descansar.
Hmmmmm.
Algo se passa com Porquinha Pipoca. Porque estará ela tão cansada?
Pensou Papagaio Paulradora para consigo.
-
Porquinho Profírio? Ó Porquinho Profírio, pára lá um pouco de te
rebolares e diz-me uma coisa. Sabes porque que é que a tua prima
anda tão cansada e melancólica?
- Bom
dia, para ti também Papagaio Paulradora. - disse Porquinho Porfírio,
um pouco irritado com a deselegância da ave. - Que prima? Tenho
tantas.
- Não
te faças de desentendido, Porquinho Profírio. A prima que anda
quase sempre contigo...ou tu com ela. Seja como for, tu com ela ou
ela contigo, até parecem siameses...
- Ah,
referes-te a Porquinha Pipoca...Pois, sabes, acho que está
apaixonada.
- O
quê? Apaixonada? Por quem? Conta-me! Conta-me todos os pormenores
suculentos.
-
Bom, acho que está apaixonada pelo Galo Boran.
-
Sim, mas ela confessou-me que gosta de bichos mais velhos e com
crista. - confidênciou Porquinho Porfírio.
- Ah!
Isto vale ouro! Obrigada Porquinho Profírio. - disse Papagaio
Paulradora, voando em direcção à capoeira.
*
- Hu-hum, - começou Galo Boran do alto do seu poleiro – hoje quero dedicar a primeira canção, Solamente tú, a uma nova fã....Desculpem, Papagaio Paulradora, como é o nome da porquinha outra vez?...Ah, sim, então, especialmente para ti aí no terceiro curral a seguir aos estábulos, Porquinha Pipoca, «Solamente Tú»...
- «Regálame tu risa, Enseñame a soñar...»1- e assim ressoou por toda a quinta a voz poderosa e enigmática de Galo Boran.
O coração de Porquinha Pipoca parou por segundos. Não, isto não podia estar a acontecer-lhe. Que felicidade. Ainda bem que ainda estava um pouco escuro, senão os outros não parariam nunca de a gozar por o seu focinhito ter passado de rosa a vermelho. Que emoção!
Quando Papagaio Paulradora chegou à pocilga, encontrou Porquinha Pipoca a
murmurar qualquer coisa para sim mesma. Calada por interesse,
Papagaio Paulradora inclinou a cabeça para a esquerda para conseguir
ouvir melhor.
-
...cocaboran –ouviu Papagaio Paulradora.- «...cocaboran?!?»...que será que está para alí a dizer? - questionou-se intrigada Papagaio Paulradora.
- Pipoca Boran. Pipoca Boran. Porquinha Pipoca Boran. Hmmmmm! Que bem que me soa este nome.
- Uáaaaaaaahc! -Papagaio Paulradora soltou uma engasgada e sonora gargalhada.
- Ai, pregaste-me um susto de morte, idiota! - gritou Porquinha Pipoca ainda com a voz tremente.
- Tu disseste Porquinha Pipoca Boran, eu ouvi muito bem...
- Shhhhhhhhh! Por favor, Papagaio Paulradora, não digas a ninguém, estava só a sonhar acordada. Se os outros souberem não vão parar de me gozar.
- Está descansada Porquinha Pipoca. - disse Papagaio Paulradora depressa, vendo que a amiga da quinta do Vale Verde estava mesmo aflita. Não direi nada. E então, gostaste da surpresa?
- Oh, Papagaio Paulradora...foi fantástico. Nunca julguei que fosse possível viver um momento tão feliz assim na minha vida. Ob....
- Ainda bem que gostaste.- Interrompeu a faladora Papagaio Paulradora. Sabes, o Galo Boran até que é simpático.
- Sim, e foi muito simpático. Com tantas fãs aceitou cantar para mim. Que alegria! Mas, tu também foste muito simpática...- e dando uma cabeçada suave no peito de Papagaio Paulradora, Porquinha Pipoca acrescentou,- És uma boa amiga. Obrigada.
1Solamente tú, canção de Pablo Alboran.
- COPYRIGHT/Registado no IGAC
Se
gostou de ler esta história por favor clique g+1
e/ou
deixe um comentário.
No comments:
Post a Comment