Esta é a história
de uma bromélia do mato, de pétalas carnudas vermelho-alaranjadas,
que um dia se apaixonou por um colibrí colorido.
O primeiro encontro
deu-se numa tarde de intenso calor, por volta da hora da sesta da
maioria dos animais e pássaros. Como de costume, os colibris eram
dos poucos animais que se podiam ver a bailar pelas redondezas, pois
são resistentes aos abrazadores e soporíferos raios solares, a
seguir ao meio-dia. Bromélia-Flor estava quase a desesperar com o
calor quando um belo colibri de cores azul-metalizadas, se aproximou
dela, batendo as asas a uma incrível velocidade de 80 vezes por
segundo, refrescando-a. Ai, que bem que sabia aquela brisa!
– Olá, jeitosa!
Posso molhar o bico nessa tua base robusta e apetitosa?
– Pois, de
subtil, não pareces ter nada...vais logo ao ataque. – disse
Bomélia-Flor, um pouco chocada com o atrevimento do colibrí.
– Que queres
dizer com isso? – respondeu o colibri um pouco consternado, pois
não estava à espera que a bromélia sequer lhe respondesse. – É
o que eu faço, sorvo o vosso mel e em troca ajudo-vos na
polinização.
– Claro que sei
disso, mas podias ser um pouco menos grosseiro. Primeiro chamas-me
gorda e apetitosa – o que é tudo menos romântico – , e ainda
por cima falas em 'sorver' o meu néctar...como se fosses um alarve!
– Que querias
que eu dissesse? Apenas me lembro de uma outra palavra que poderia
ter utilizado, e essa é que estaria no limite da ordinarice...
–
Não, não precisas de me dizer qual é...prefiro ficar no mundo da
ignorância. Cá por mim, preferia que me tivesses pedido um
beijo...
– És mesmo um
tratado. Como te chamas, oh florzinha do mato, com alma de poeta?
–
Sou Bromélia-Flor...
–
Bromélia-Flor, lindo nome. Eu sou o colibri Alor, encantado de a
conhecer...Pensando bem, até acho que vou adoptar esse termo. Serei
o Don-Juan
dos colibris! O colibri que beija mais de mil flores por dia...
– Hey!
Depravado, não...Como crês que conseguiria as 6660 calorias mínimas
diárias para a minha sobrevivência?
– 6660 calorias
mínimas diárias? – repetiu Bromélia-Flor, um pouco incrédula.
Mas não és assim tão grande como isso e não deves pesar mais do
que uns meros 3 gramas. Deves estar a tentar impressionar-me...
– 2,5 gramas,
para ser exacto. Sim, estou em forma – disse Alor todo orgulhoso
– faço muito exercício. Os mais avantajados da minha espécie
chegam a pesar 6 gramas! Mas ainda te digo mais – 6660 calorias
nem é assim tanto. No tempo frio, a ingestão de calorias pode
dobrar...
–
Xiiiiiiiiiiiii...! Mas...e não te cansas de andar de flor em flor?
– E, tu, não te
cansas de estar aí sempre parada?
– Escusas de
ficar todo arisco. Claro que gostaria de ver o mundo, mas como vês,
estou presa ao solo e isso é, evidentemente, impossivel. Mas não é
assim tão mau, pois sempre vou conversando com os bichitos viajantes
que por aqui passam...O certo é que nunca falei com nenhum colibrí.
– Isso deve ser
porque só agora é que “amadureceste”....
– Que queres
dizer com isso? – replicou Bromélia-Flor, novamente na
defensiva.
– ...se me
deixasses terminar as frases, não teríamos destes mal-entendidos.
Se calhar, apenas recentemente as tuas cores se tornaram garridamente
vistosas. Eu, que já ando por aqui há algum tempo só hoje dei
contigo. Somos muito sensíveis à cor.
–
E antes de andares por aqui, por onde estiveste?
– Hã?
–
Hã, não, o
quê?...Perguntava
se tens viajado muito?
– Apena por
estas bandas...há flores, moscas, aranhas e formigas à fartura para
me alimentar, sem ter que ir arriscar o pescoço em territário
alheio.
– Quem haveria
de querer fazer-te mal?
– Quem mais
senão os colibris dessa outra área?
– Não
entendo...
– Nós os
colibris somos muito combativos e defensores do nosso território.
Não gostamos que outros colibrís, ou outros pássaros quaisquer,
venham meter o bico nos nossos assuntos...– como Bromélia-Flor
não fez mais nenhuma pregunta, Alor prosseguiu – então, querida
Bromélia-Flor, posso dar-lhe o tal beijinho que me pediu?
– Não fui eu
que pedi...– mas, apercebendo-se, pelo olhar matreiro de Alor, que
este apenas estava a brincar, acabou por ceder e deixou-se beijar.
O beijo não durou
mais do que os normais 5 segundos, mas foi tão doce e tão intenso,
que tanto Bromélia-Flor como Alor ficaram uns segundos sem ar e sem
fala. O coração de Alor atingiu as 1800 batidas por segundo, de
tal forma que Bromélia-Flor as conseguia ouvir e, a certo ponto,
quase que jurava que as estava a sentir.
A romântica
Bromélia-Flor estava nas núvens e o até então polígamo Alor
estava confuso com o turbilhão de sentimentos que lhe percorriam o
corpo todo. Mas, macho como era, lá conseguiu recompor-se.
– Bromélia-Flor,
gostei muito deste tempo que passei contigo...
– Sim, eu também
– interrompeu a flor, com uma voz entristecida, prevendo a
despedida que se seguia.
– ...e gostaria
de te pedir permissão para, a partir de agora, poder passar por aqui
todos os dias, à mesma hora, até ao resto das nossas vidas, para
podermos conversar um pouco...e eu te roubar um beijinho.
–
Ora essa – disse Bromélia-Flor, com as pétalas um pouco mais
ruborizadas – não precisas de roubar...eu dou-te todos os que
quiseres.- COPYRIGHT/Registado no IGAC
Se gostou de ler esta história por favor clique g+1 e/ou deixe um comentário.
No comments:
Post a Comment